Cássia, com outros participantes do GSA, em atividade do programa - jan/2014

No mutirão realizado para a construção da Praça São José, no ano passado, entre as dezenas de jovens que participaram com afinco do projeto, um deles em especial chamou a atenção pelo seu empenho. A estudante Cássia Quele Pereira da Costa, de 19 anos, não poupou esforços para ver esse sonho de Angico dos Dias concretizado. Ela atuou desde a captação de recursos até a divulgação e incentivo para que todos os moradores se unissem à empreitada. Representantes do Instituto Elos, que coordenavam o mutirão junto com o ILG, identificaram nela a capacidade de liderança e o comprometimento com a comunidade. “Valorizamos pessoas como a Cássia, que vão para as ruas, que conversam com as pessoas, que fazem os projetos acontecerem e não se abalam facilmente diante de desafios e dificuldades”, diz Paulo Farine, do Instituto Elos. ”Quando finalizamos o processo da Praça, percebi que ela queria novos desafios, novos aprendizados e se encaixava no perfil de participantes para o Guerreiros Sem Armas”, completa.

Realizado em Santos (SP) desde 1999, o GSA é um programa internacional de formação vivencial de jovens em liderança e empreendedorismo social. A cada um ano e meio, 60 participantes de várias partes do mundo são treinados, durante um mês, em tecnologias para a transformação de realidades. A metodologia de mobilização cidadã criada pelo Instituto Elos para o programa já ganhou prêmios e foi referendada por instituições importantes, como UNESCO e ONU-Habitat. Na edição de 2014, jovens de 18 países passaram pelo concorrido processo de seleção (foram mais de 800 candidatos de todo o planeta) e, colocando a mão na massa, atuaram em três comunidades da Baixada Santista sob a orientação de facilitadores e consultores.

Entre esses jovens estava a representante de Angico dos Dias. Para conseguir participar, Cássia mobilizou a família e toda a comunidade a fim de conseguir os recursos para o curso. Metade do programa é financiada pelo Instituto Elos e, reconhecendo a importância dessa formação, o Instituto Lina Galvani  deu o seu apoio. Restava ainda uma parte da verba para ela unir-se ao programa. Por meio de rifas e apoios, em pouco tempo a estudante conseguiu alcançar seu objetivo. “Isso me motivou, fortaleceu e aumentou minha vontade de ir para o Guerreiros Sem Armas”, conta.

Valeu a pena. “Foi a melhor experiência da minha vida”, diz. No mês que passou em Santos, Cássia conheceu diferentes culturas e reuniu uma série de aprendizados que vai poder utilizar em Angico e repassar para outros moradores da comunidade. Como uma espécie de conclusão do curso, ela tem que desenvolver localmente uma ação. E uma ideia já está em andamento: trata-se da criação de uma midiateca. Em passagem por São Paulo, Cássia também teve a oportunidade de visitar e buscar inspiração em duas organizações que atuam na área de incentivo à leitura, a Fundação Bunge e a Vaga Lume.  E foi com as ideias fervilhando depois de todas as experiências e do processo transformador pelo qual passou que retornou a Angico.

Neste bate-papo, ela nos conta detalhes de como foi e o que aprendeu no Guerreiro Sem Armas.

Atividade do programa GSA - jan/2014

No programa você conviveu com jovens do mundo todo, como foi essa experiência?
Foi incrível conviver com aquelas pessoas bem diferentes de mim, com culturas diferentes. Eu tinha vontade de conversar e saber das histórias delas, então pedia para a minha amiga Myrian atuar como tradutora e ela me ajudava a ter essa comunicação com os participantes que não falavam português. Fiz amigos no GSA e na Vila Progresso que vou levar para a vida toda. E estamos todos conectados. Pessoas completamente diferentes mas com o mesmo objetivo estavam ali por acreditarem num melhor mundo agora, já. Lá eu vi o coletivo forte e isso me fortalece também, pois sei que não estou sozinha e que sempre vou ter uma comunidade como o Guerreiros para me apoiar. Sem dúvida foi a melhor experiência da minha vida. Lá eu me encontrei e estou descobrindo qual é o meu propósito!

Qual foi a experiência mais marcante?
Difícil escolher apenas uma porque tudo o que vivi foi marcante. Mas vou citar uma que foi incrível. Na comunidade Vila Progresso, nós aprendemos na prática, aplicando a filosofia Elos, seus sete passos no jogo “Oasis” – olhar, afeto, sonho, cuidado,  milagre, celebração, re-evolução. Foi espetacular. O primeiro contato com a comunidade foi o do olhar: ver a abundância onde muitos enxergam a escassez, procurar pontos de luz, encontrar as belezas naquele lugar, focar no que já existe ali e não no que não existe. Foi um desafio para mim porque, geralmente, estava acostumada a olhar para o que falta – afinal, é mais fácil. Após identificar as belezas e recursos, partimos para as outras disciplinas.

Qual você considera que foi o principal aprendizado?
O aprendizado de convivência com o próximo. Descobrir que a melhor forma de me conectar com as pessoas é falando e ouvindo com o coração e, assim, tocar profundamente o outro. Essa é a melhor forma de trazer as pessoas para esse mundo que todos nós sonhamos, mas nem todos lutamos. Aprendi sobre o amor à comunidade e em comunidade. E que quando trabalhamos juntos por um mesmo objetivo, não importam as diferenças entre as pessoas: sempre vai ter uma liberdade de conexão entre elas. Também aprendi que temos que fazer dando nossa melhor versão sempre – seja na vida, no trabalho e em tudo que fizermos – e que sonhos coletivos têm o poder de se realizar.

O que mudou mais em você com essa participação no Guerreiros Sem Armas?
Tudo mudou… Foi uma transformação de dentro pra fora! Quem participa do GSA nunca mais será a mesma pessoa: pensa e age de forma diferente e começa a ver o mundo com um olhar apreciativo. Hoje, tenho foco, clareza, valorizo as coisas mais simples. Com relação às pessoas, sou mais tolerante, quero saber dos talentos, estou sempre na minha melhor versão, conectada comigo mesma e com meus sonhos. Trouxe a filosofia Elos para a minha vida e tenho a formação da qual preciso pra mudar a realidade da minha comunidade. Hoje, me considero uma pessoa feliz e grata por ter participado do Guerreiros Sem Armas 2014.

Na volta à comunidade, que tarefa você está planejando realizar?
Faz parte da minha re-evolução, que é descobrir sonhos comuns e então aplicar o jogo Oasis em Angico. Tive sorte porque o meu sonho coletivo é o mesmo de outras pessoas da comunidade: a criação da midiateca, uma biblioteca com espaço para músicas e vídeos. Juntos vamos bolar estratégias para fazer acontecer.

Como você conseguiu viabilizar sua ida ao programa e o que você achou do ILG também ter contribuído?
Contei para os meus familiares e amigos que tinha sido selecionada para fazer o curso em Santos e, depois que eu vi os vídeos do GSA e o que eles fazem, me apaixonei e virou meu sonho. Expliquei que o curso tem um custo e que iria precisar do apoio deles. Eles compreenderam e me ajudaram cada um com que podia. Minha irmã, por exemplo, deu um tablet para ser rifado, e foi nessa parte que a comunidade se fez presente e ajudou comprando as cartelas. Foi incrível! Isso me motivou, fortaleceu e aumentou minha vontade de ir para o Guerreiros Sem Armas. Quanto ao ILG, me senti muito feliz por acreditarem em mim. O Instituto mostrou que realmente quer ver o Angico desenvolvido e melhor, e que nós temos que dar os primeiros passos. Na verdade, não foi uma surpresa o ILG contribuir para minha participação, pois no fundo do meu coração eu já sabia que eu teria esse apoio, pelo fato do Instituto estar sempre com a gente da Rede Social nos apoiando e dando a assistência que precisamos. O ILG, assim como eu, sonha com o melhor mundo e acredita que nós somos a mudança que tanto esperamos. Tenho uma gratidão eterna por cada um que me apoiou de alguma forma!

Na comunidade Vl. Progresso - jan/2014

Na comunidade Vl. Progresso - jan/2014

A semente de um novo sonho - jan/2014

Fotos: Instituto Elos – página do Facebook do GSA