Ana Clara Dumont*

Quando questionados sobre qual símbolo representaria aquele grupo, cada membro da Rede Social de Angico, Peixe e Região, na Bahia, trouxe uma imagem, alguns de forma mais clara, outros mais confusos com relação ao que se propunha. Até que chegou a vez de uma das mulheres, talvez a mais idosa e também uma das mais respeitadas da comunidade, que falou bastante, mas deixou uma sensação de que não tinha entendido a pergunta. A oficina continuou acontecendo, dessa vez, as pessoas discutiam e tentavam materializar com sucatas as imagens que haviam mencionado. Aquela mesma senhora se concentrou em um copinho de plástico e logo o transformou num balaio, o grande símbolo daquele grupo – cantado por todos em uma canção que sempre fecha os encontros da rede -, que seria em seguida transformado na logomarca e que, por palavras, ninguém havia mencionado. E não ficaram dúvidas entre os participantes de que aquele símbolo os representava de forma genuína.

Mas é possível alcançar produtos de comunicação efetivos e significativos de um grupo heterogêneo – com diferentes idades, gêneros, origens ou titulações – e sem nenhuma formação na área? O exemplo anterior, entre outros em que tivemos a oportunidade de vivenciar no Instituto Lina Galvani nos provam que sim.

Ao capacitar um grupo para que ele se torne protagonista e interlocutor de sua própria iniciativa, estamos agindo de acordo com os princípios básicos da Educomunicação, que segundo o Núcleo de Educação e Comunicação da USP, propõe a construção de ecossistemas comunicativos abertos, dialógicos e criativos, quebrando a hierarquia na distribuição do saber, justamente pelo reconhecimento de que todas as pessoas envolvidas no fluxo da informação são produtoras de cultura, independentemente de sua função operacional no ambiente em que se encontra.

Além disso, para que essa comunicação, além de efetiva possa inspirar, é necessário que se chegue à identidade inspiradora de cada inciativa, ou seja, por meio da formação de uma mente coletiva, seus integrantes se sintonizam com um propósito comum, compartilham o sonho que deve ser comunicado e tomam consciência de que quem não se sente inspirado pelo que comunica, também não consegue inspirar seu interlocutor.

E é de forma orgânica e fluida que acontecem essas criações coletivas de comunicação. São processos que valorizam o todo e o detalhe, o grupo e o indivíduo. Talentos e potencialidades são revelados e intensificados, de forma que todos se sintam livres e à vontade para se expressar, por meio das várias formas existentes para tanto. A comunidade é colocada como porta-voz da sua essência, trazendo o que de mais legítimo e autêntico existe no grupo e que, sem dúvida nenhuma, os inspira e irá inspirar a todos aqueles com os quais se quer comunicar.

* Ana Clara Dumont é comunicadora, psicóloga, atriz e tem especialização em Gestão de Projetos Culturais. É coordenadora de desenvolvimento institucional do Instituto Lina Galvani desde 2010, sendo responsável pela Comunicação da instituição e desenvolvendo projetos de Educomunicação nas comunidades onde atua.