Durante o primeiro semestre, o Instituto Lina Galvani deu início ao projeto Metodologia de Desenvolvimento Comunitário ILG. Sob a coordenação de Sérgio Esteves, sócio-diretor da AMCE Negócios Sustentáveis, a equipe debruçou-se sobre a atuação e a metodologia adotada pelo Instituto. Foi um período importante para analisar criticamente as realizações, reunir em conjunto os aprendizados e traçar ajustes e ações para o fortalecimento institucional. Num segundo momento, a equipe focou no estabelecimento de indicadores de desempenho para o ILG e as comunidades nas quais atua. Esta etapa terá desdobramentos no decorrer de 2014, inclusive com aplicação em uma localidade piloto. Para falar mais sobre esse processo que a equipe do Instituto vivenciou no primeiro semestre, as próximas etapas do trabalho e os desafios na área de desenvolvimento comunitário, conversamos com Sérgio Esteves. Confira o bate-papo!

Sérgio, à esquerda, com a equipe do ILG – jul/14

Como foi acompanhar o trabalho do ILG neste primeiro semestre?

Entrar em contato com o trabalho do Instituto foi algo de que gostei muito. Como trabalhamos inicialmente sobre questões relacionadas ao fortalecimento institucional, partimos de uma releitura dos direcionadores do Instituto e esse processo foi cheio de descobertas, acho que para todos. O posicionamento foi reafirmado e fortalecido. O Instituto tem, a meu ver, excelentes fundamentos e quanto mais liberdade de ação tiver para seguir a sua vocação maior será a sua contribuição social. Gostei em especial da qualidade do engajamento da equipe, principalmente durante o trabalho de formulação de indicadores de desempenho.

 

Pelo que observou, quais as iniciativas do ILG em desenvolvimento comunitário que você destacaria e por quê?

Não consigo destacar uma iniciativa das outras. Pelo que pude apreender – sem contudo ter ido a campo – todas elas têm sido conduzidas a partir de referências bem estabelecidas e eventuais diferenças entre elas ficam por conta de contextos bem próprios das comunidades e das relações locais envolvendo o negócio da mantenedora. O Instituto faz um trabalho bem consistente e uma das etapas em que investimos um bom tempo foi exatamente a que leva a uma reflexão crítica sobre a atuação do Instituto, independentemente das circunstâncias locais e dos resultados obtidos. Sempre há interesses de diferentes atores presentes em um trabalho com a comunidade e o desafio é o de realizar o propósito do Instituto e estar a serviço do que a comunidade aspira nos termos dela.

Quais as etapas do trabalho realizado no primeiro semestre?  E quais as principais constatações e resultados?

O projeto se compôs de duas etapas. A primeira, já mencionada, foi voltada ao fortalecimento institucional. A equipe se permitiu fazer uma leitura atualizada dos pressupostos de atuação do Instituto e da metodologia adotada. Foi um processo em que as pessoas olharam criticamente para as realizações até ali e trouxeram para a conversa aprendizagens que foram fundamentais para que alguns ajustes e atualizações fossem feitos. O resultado dessa etapa, além das atualizações, foi um conjunto de ações a serem incluídas no planejamento de trabalho do Instituto visando o fortalecimento institucional. A segunda etapa foi o estabelecimento de indicadores de desempenho, inicialmente para dois públicos: mantenedora e comunidades. Nessa etapa, trabalhamos sobre referências teóricas de indicadores e sobre diversos exemplos práticos de formulação e processos de aplicação. O caminho metodológico escolhido para o estabelecimento dos indicadores do Instituto foi o de construção coletiva. A equipe, partindo da experiência acumulada e das referências disponíveis – e com orientação da AMCE – construiu os indicadores. Pela minha experiência, a construção coletiva é a metodologia por excelência para esse tipo de tarefa, apesar das dificuldades que surgem e da necessidade de tempo para que as questões que surgem ao longo do caminho sejam devidamente enfrentadas. Esse trabalho deu origem a um conjunto de indicadores envolvendo a relação com esses dois públicos – que estão agora em processo final de revisão.

E de agora em diante, quais os caminhos propostos ao ILG?

Acho que o primeiro passo diz respeito à implementação tanto das ações de fortalecimento institucional quanto desta primeira geração de indicadores. É preciso colocar em prática, aproximar o que se pensou e trabalhou coletivamente das realidades locais, rever a linguagem e descobrir novas possibilidades de potencializar retornos. Da avaliação crítica dessas práticas e das aprendizagens obtidas, novas ações poderão ser projetadas e indicadores para outros públicos poderão vir a ser construídos. Como vejo, a equipe veio construindo uma boa base ao longo do projeto e os desdobramentos serão visíveis em pouco tempo.

 

Com relação ao desenvolvimento comunitário, quais os principais desafios atualmente para institutos, ONGs e outras entidades que focam nesse tema?

Na minha visão, acho que o principal desafio de qualquer entidade que trabalhe com esse tema é saber respeitar a diversidade local e os termos em que a demanda de desenvolvimento se apresenta. Fazer junto é uma arte e requer certo estado mental e afetivo para considerar as histórias de vida, as questões e os ritmos que as pessoas trazem à tona quando estão empenhadas em construir um futuro. O desenvolvimento não tem uma leitura apenas e, a meu ver, deve ser empreendido pelas pessoas das localidades em seus próprios termos. O aporte de referências que não estão presentes na localidade pode e deve ser feito, porém sem que assumam ares de novas realidades que devam ser adotadas, substituindo tradições. Eficácia não deve ser o nome do jogo, mas desenvolvimento de um jeito em que as pessoas importam e de um jeito que importa para as pessoas. De resto, é preciso cuidar para que termos que não fazem sentido local (não têm história para que tenham sustentação) sejam revistos, adotando-se aqueles que fazem sentido para a comunidade. Acho que qualquer mudança, entendida como uma alteração na identidade, requer cuidado para que as pessoas trabalhem para viabilizar as suas aspirações – não porque se usou uma técnica para isso mas porque se respeitou o seu jeito de ser na localidade.