por Rodrigo Alvarez*

Representando o IDIS, participei esta semana de um evento promovido pelo Instituto Lina Galvani, braço de investimento social privado da empresa Galvani. A empresa, familiar, é brasileira e atua na extração de minério e produção de fertilizantes. O Instituto, criado em 2003, é presidido por Cecília Galvani, psicóloga.

O Instituto atua em comunidades no entorno das operações da empresa, promovendo o desenvolvimento comunitário local. Desde sua criação, desempenhou seu trabalho com relativa autonomia e independência das operações da empresa. Durante o evento, Cecília tornou público que, recentemente, a direção da empresa quer integrar, de maneira mais patente, as atividades do Instituto aos negócios da empresa.

Para empresas com alto impacto socioambiental, como são, por exemplo, mineradoras, grandes empreendimentos e indústrias de alimentos ou ligadas ao agronegócio, estabelecer relações de confiança entre a empresa e a comunidade de seu entorno, é mais do que conquistar uma boa reputação. É garantir o que está sendo chamado de licença social para operar.

Para sua surpresa, Cecília Galvani descobriu, em diversas outras empresas com quem conversou nos últimos meses, que o dilema que ela vive em seu Instituto não é exclusividade seu – uma onda de integração e cooperação mais estreita entre o braço de Investimento Social Corporativo e a estratégia de negócios da empresa.

No final dos anos 90 e ao longo dos anos 2000, uma das premissas na criação das Fundações e Institutos empresariais é que eles deveriam se manter o mais distante possível das atividades da empresa, para que sua atuação não fosse “contaminada” pela dinâmica e ritmo do negócio, muitas vezes dissonante da dinâmica e ritmo do desenvolvimento social.

O assunto da integração do ISP com os negócios não é novo, mas ganhou relevância com a ascensão da temática da sustentabilidade dentro das empresas. Essa nova onda, no entanto, traz novos desafios e oportunidades para empresas, institutos e organizações que apoiam a sustentabilidade ou o investimento social privado nesses ambientes.

Percebemos que o momento é marcado por alguns dilemas, que serão endereçados nos próximos anos. Sem querer exaurir o tema, listamos abaixo algumas questões que fazem parte desses tempos e que, parte delas, surgiram no evento do Instituto Lina Galvani:

  1. Como planejar estrategicamente a integração entre a ação dos Institutos e Fundações empresariais com o negócio da empresa de maneira satisfatória para os negócios e respeitando a história construída pelos Institutos com comunidades?
  2. Como medir o retorno do investimento social para o negócio, uma vez que, na medida que as empresas se profissionalizam e se tornam mais anônimas, serão necessárias formas objetivas de avaliar esse retorno?
  3. Como estabelecer a governança entre as recém-criadas áreas de sustentabilidade, Institutos Empresariais e áreas de negócios da empresa?
  4. Como integrar o investimento social obrigatório (Contrapartida Social exigida pelo BNDES, Princípios do Equador, Protocolo Verde, exigências dos Governos Estaduais e Municipais etc) com o Investimento Social voluntário (ações voluntárias da empresa), considerando que, segundo pesquisa realizada pelo BISC¹, o Investimento Social Obrigatório hoje cresce acima do Investimento Social Voluntário?
  5. Qual o limite do papel da empresa em localidades nas quais a sua operação é tão grande que muda o cenário da cidade? Como manter seu papel, sendo responsável e garantindo uma boa relação com a comunidade sem assumir o papel do Estado?
  6. Como garantir a licença social para operar?

Neste cenário, a definição adotada pelo IDIS para Investimento Social Privado, que é a “alocação voluntária e estratégica de recurso privados para o benefício público”, continua mais viva do que nunca.

Os negócios mudam e se adaptam a novos momentos e, portanto, mudam suas estratégias. O Investimento Social privado continuará sendo uma ferramenta importante que apoiará o compartilhamento de valor tanto para a empresa quanto para a comunidade.

¹ Relatório BISC (Benchmarking do Investimento Social Corporativo) Comunitas 2011.

* Rodrigo Alvarez é diretor do IDIS, responsável pela gestão dos serviços de consultoria a empresas, famílias e ONGs. Tem 17 anos de experiência como profissional de organizações da Sociedade Civil. Foi fundador da  ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), é membro do conselho da Aiesec Brasil e coautor do Livro “Fundos Patrimoniais – criação e gestão no Brasil”.