por Karina Durigan Nogueira*

Há muito tempo se fala sobre pobreza e problemas sociais.  Segundo Augusto de Franco, uma das maneiras de combater essas questões é a de construir parcerias entre pessoas, organizações, empresas e governos, ao invés de ficar esperando tudo do Estado. E aí surge um novo conceito: o desenvolvimento comunitário, que nada mais é do que assumir responsabilidades, exercer o protagonismo, ter iniciativa para resolver os problemas de uma comunidade, ao invés de ficar esperando alguém de fora (ou de cima) fazer isso.

Para entender o desenvolvimento comunitário, é preciso quebrar o paradigma de que desenvolvimento significa crescimento. Desenvolvimento não é crescimento. Desenvolvimento é mudança social. E mudança social é mudança nos atores sociais e nas relações entre eles. Então, estamos falando de uma mudança nas relações da comunidade.

A realidade social de um local é algo que foi construído, continuamente, ao longo da história pelos sujeitos inseridos nela. E isso inclui pessoas, empresas, entidades e governo. Então, para transformar essa realidade, uma ação social precisa engajar todos esses atores, precisa estabelecer essas relações na comunidade. Eles precisam estar comprometidos com o movimento local. Uma comunidade pressupõe a existência de proximidade, mas mais do que isso, é preciso que exista elos profundos entre os membros dela. Eles precisam se sentir fazendo parte e ter interesses comuns.

Segundo Regina Escudero César, um dos maiores méritos de nossa história recente é o de que aprendemos a participar no processo de construção de nossa realidade, sendo agentes/sujeitos dentro dela. Ou seja, passamos a entender o que é a cultura da participação.

No início, a ação imediata das pessoas para um projeto social, era a de procurar a prefeitura ou um vereador. Depois, começou-se a pensar no empoderamento da própria comunidade, para que esta realizasse suas ações independentes do governo. Porém, hoje, entende-se que o Poder Público é um ator social e precisa participar do processo do desenvolvimento comunitário, afinal ele faz parte da construção da história de uma realidade local. Mas, como inserir o governo nesse processo?

Quando a comunidade se empodera e não espera que outro faça por ela, quando ela sabe o que quer, o diálogo com o governo fica mais fácil e mais direcionado. Essa comunidade pode e deve estabelecer um diálogo com o governo local, mostrando suas propostas, trazendo os representantes para discussão em conjunto. Só assim é possível direcionar as ações do Poder Público, saindo da postura da passividade e não permitindo mais que o governo faça ações desconexas com a realidade local. O governo passa a começar a entender o que faz sentido para aquela comunidade, quais são os desejos comuns e genuínos. Mais do isso, ele se integra a esses interesses e faz parte deles.

Entender que o poder público é parte integrante do processo de desenvolvimento comunitário, como um ator social, é quebrar o paradigma da divisão entre sociedade e governo, em que cada um deve atuar de forma independente. Pessoas, empresas, entidades e governo podem construir uma realidade juntos. Isso se chama governança integrada.

*Karina Durigan Nogueira é Relações Públicas, tem pós-graduação em marketing e comunicação organizacional. Atua como Representante Local do Instituto Lina Galvani em Paulínia/SP, desde 2012.