Mas afinal o atual modelo de desenvolvimento econômico é compatível com a idéia de desenvolvimento sustentável?

por Márcia Andaluza Xavier*

O livro The world conservation strategy: Living resourse conservation for sustainable development lançado em 1980 pela União Mundial para a Conservação da Natureza (UICN), pelo Fundo para a Vida Selvagem (WWF) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), traz a mensagem de que conservação não é o oposto de desenvolvimento,  deixando claro que existe uma interdependência entre os dois, estava lançada a concepção do termo desenvolvimento sustentável.

 O termo só chegou aos círculos políticos durante a Rio-92, mas foi em 1980 que o termo foi oficialmente reconhecido através do Relatório Brundtland (Nosso futuro comum), resultado de uma série de seminários sobre estilos alternativos de desenvolvimento.

 O que se presencia hoje é a utilização desmedida do termo, ele está em todos os discursos em que se quer dar a impressão de que existe uma preocupação com o meio ambiente, nem sempre verdadeiramente presente, e, portanto muitas são as concepções  para o termo pois este resulta da junção de um substantivo (desenvolvimento) com um adjetivo (sustentável), este sempre representando um juízo de valor próprio de cada indivíduo (interesse).

 Para responder a pergunta, motivo do qual se faz este texto, utilizarei a definição do  Relatório Brundtland (Nosso futuro comum):

 “Desenvolvimento sustentável é um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas.”

 Muitos são os entraves ao estabelecimento do desenvolvimento sustentável entre os quais podemos citar os culturais, científicos, político-econômicos, sociais, éticos, ideológicos, psicológicos e filosófico-metafísico. 

O modelo de desenvolvimento econômico baseado no capitalismo e que tem como característica a transformação das relações em mercadoria e como objetivo o lucro, é incompatível com  o desenvolvimento sustentável uma vez que este alcança uma dimensão holística na relação entre os  seres humanos e entre a humanidade e a natureza não contemplada pelo capitalismo.

Nosso modelo de sociedade global baseada num mosaico de Estados-nações onde a cooperação e o equilíbrio não se fazem presentes revela nossa fragilidade diante dos problemas ambientais que agora se tornam globais, exigindo uma nova ordem internacional.

Para além do debate acerca do desenvolvimento sustentável, cabe salientar o perigo de acreditar que ele funcionará como uma fórmula mágica para resolver os problemas socioambientais, seu maior mérito talvez resida no fato de que com ele abriu-se um espaço para o debate acerca de nossa responsabilidade para com nossos atos, e que estes atos por mais pessoais que sejam alcançam uma escala global e, portanto nossa ação tem que ser local, mas com uma visão global.

* Márcia Andaluza Xavier é consultora de Educação Ambiental do Parque Fioravante Galvani e coordenadora executiva da Campanha LEM APP 100% Legal.