* Documento que traz as principais ideias, crenças, valores, motivações e desafios do desenvolvimento comunitário, levantados e discutidos durante o encontro “Desenvolvimento de Comunidades Impactadas por Grandes Empreendimentos” – promovido pelo Instituto Lina Galvani, nos dias 14 e 15 de setembro de 2015, em São Paulo (SP).

 

Nos dias 14 e 15 de setembro nos reunimos em São Paulo, congregando um grupo diverso e engajado para dialogar, trocar experiências e refletir sobre o Desenvolvimento de Comunidades Impactadas por Grandes Empreendimentos e as contribuições da colaboração neste contexto.

No primeiro dia, olhamos para os diferentes atores deste campo (líderes comunitários, agentes locais e gestores dos institutos e fundações) e percebemos que compartilhamos desafios e quereres, mesmo quando em contextos e realidades muito diversas, e que isto, de certa forma, já nos dá um chão, a partir do qual as construções conjuntas são possíveis e desejáveis. Elegemos aspectos fundamentais para isso: o diálogo, a escuta ativa, a compreensão dos diferentes papéis, a compreensão da realidade local, a parceria, o planejamento, o olhar para resultados, a transparência e credibilidade, a sistematização dos conhecimentos gerados, e o sonho comum… tem que haver um sonho comum para isso acontecer.

Fizemos uma “Feira de Experiências” e exploramos as nossas práticas à luz de diferentes lentes, relacionadas à primeira edição do encontro. Ficaram claros os desafios comuns e os avanços já conquistados e uns aprenderam com os outros, num rico processo de troca de conhecimentos. Percebemos que todos têm o mesmo propósito: ver as mudanças acontecendo em seus territórios.

Compreendemos que para haver alinhamento entre os atores no território é necessário ter pessoas engajadas, união, coordenação, ações e conhecimento.

Exploramos também os espaços de diálogo existentes em nossas experiências – reuniões em comitê, rodas de conversas e encontros semanais – e entendemos que eles geram aprendizados e mudanças ao terem o “não fazer sem envolver” como premissa.

Ao refletirmos sobre a sustentabilidade das ações, destacamos que ela é influenciada pela multiplicidade dos atores no território, pela mobilização social e pelo fortalecimento da sociedade civil. Trabalhar a qualificação dos gestores públicos parece ser uma ação bastante próspera neste sentido.

Notamos que todas as iniciativas têm em maior ou menor grau alguma interface com o poder público e reforçamos a importância da participação deste ator, que quando se engaja num processo compartilhado de desenvolvimento, agrega impactos mais relevantes ao território do que a iniciativa privada e a sociedade civil conseguem fazer sem o governo.

Ressaltamos a importância de avançarmos na avaliação de resultados, integrando-a como uma prática sistêmica e constante e pensando-a desde o início do processo, preferencialmente, com todos os atores envolvidos.

No segundo dia, as lideranças comunitárias tornaram-se anfitriãs e receberam representantes de fundações, institutos, empresas e consultores que vieram se juntar ao grupo. Apropriadas de seus papéis, levaram as pessoas a trilhar um caminho de exploração de dimensões do desenvolvimento comunitário. Perceber que estávamos entre pares e que o conhecimento de cada um é importante, nos trouxe mais segurança criando entre nós um vínculo diferenciado.

Tivemos o grato presente de receber durante o encontro o livro “Olhares sobre o Desenvolvimento Comunitário: 10 perspectivas do impacto gerado por grandes empreendimentos”, publicação lançada no evento que reflete sobre desenvolvimento comunitário e impacto gerado por grandes empreendimentos e aprofunda o debate iniciado na primeira edição do encontro.

Exploramos diferentes qualidades da colaboração e observamos seu potencial em processos de desenvolvimento comunitário, na construção de visões compartilhadas e no engajamento e senso de pertencimento, saindo da lógica da terceirização para a lógica da co-responsabilização, potencializando o trabalho e empoderando mais agentes no processo.  “Fazer com” é uma das mais potentes formas de edificar relações e de se construir o mundo que desejamos.

Sabemos que a colaboração e construção conjunta podem nos oferecer resultados mais significativos e abrangentes e que este modo de fazer demanda um tempo maior de processo e nos pede: disponibilidade, escuta ativa, diálogo, respeito, compreensão e capacidade de lidar com conflitos. Entendemos que essas são atitudes e capacidades a serem desenvolvidas e fortalecidas para que as práticas colaborativas possam estar presentes, norteando os processos nas localidades.

Entendemos também que há diferenças entre os atores num território e que estas precisam ser compreendidas e consideradas, de forma respeitosa, partindo do princípio que a diversidade é fonte de riqueza, uma vez que nos ajuda a compreender o contexto como um todo e a nos “esticar” e crescer com as diferenças.

Sentimos a falta do setor público ali, o que nos faz refletir que não há desenvolvimento sem o poder público e que precisa construir caminhos de diálogo e participação com esses atores, nos entendendo como co-responsáveis por essa aproximação. Nos demos conta de que muitas vezes pensamos no poder público de maneira muito restrita ao poder executivo, mas há várias instâncias a serem trabalhadas. Lembramos que já existem espaços de participação e controle social instituídos, dos quais podemos participar, exercendo papel ativo na construção de políticas públicas e de um modo de governar mais efetivo e representativo. Consideramos que o próximo passo pode ser investir na participação nestes espaços e no desenvolvimento e criação de caminhos de diálogo.

Olhamos para o papel das liderança, compreendemos que estes são atores fundamentais no contexto em que trabalhamos, capazes de mobilizar pessoas, de articular esforços, de conquistar aliados e alavancar processos. Ficou clara e presente a necessidade de se investir na formação de novas lideranças, apostando na “educação para a cidadania” como linha de ação promotora de sustentabilidade.

Como avaliar processos de desenvolvimento trazendo clareza às qualidades das transformações realizadas? Mais uma vez refletimos sobre a importância de sistematizar as experiências, trazendo luz ao conhecimento coletivo construído nos processos nos quais estamos implicados e disseminando-os de modo que se ampliem e ganham escala.

Desenhamos um protótipo do que desejamos construir como uma prática de desenvolvimento nas comunidades, destacando como aspectos fundamentais: a participação dos três setores, o diálogo e a colaboração, o conhecimento do território, a questão ambiental, a inclusão da diversidade e a sustentabilidade como uma visão de longo prazo. Olhamos para a crise político-econômica do país como um caminho de incertezas. Dentro de uma crise é importante ter transparência e criatividade… Quem sabe assim ela desperta o melhor do mundo?

Por fim, compreendemos que encontros como esse nos ajudam a nos mantermos no caminho, na rota da promoção de processos de desenvolvimento cada vez mais coerentes, colaborativos e sólidos. A troca e a reflexão ganham ênfase e as nossas práticas são tidas como substâncias ricas em aprendizagem, “a prática nos ensina”.

 

Participantes do encontro: Ademar Assis (Instituto Votorantim), Ana Clara Dumont (Instituto Lina Galvani), Ana Leticia Silva (GIFE), Ana Paula Soares de Carvalho (FOCO), Ana Roth (FOCO), Antônio Carvalho (Líder Comunitário), Aristides Gusmão (Instituto Intercement), Bira Azevedo (Instituto Lina Galvani), Carlos Lopes (Consultor), Cecília Galvani (Instituto Lina Galvani), Conceição Lima Lopes (Líder Comunitário), Cristina Cardoso (Instituto Lina Galvani), Danilo Jaime Mariano (Líder Comunitário), Deborah Monnerat (Líder Comunitário), Deise Sartori (Vocação), Diana Daste (Consultora), Edson Rodrigues Passos (Líder Comunitário), Flavio Seixas (Instituto Intercement), Germana Anghinoni (Yara), Graciela Pereira da Rocha (Líder Comunitário), Greta Mello (Yara), Isabel Ache (Fundação Vale), Israel Nogueira Fogli (Votorantim Cimentos), Jair Resende (Instituto Intercement), João Manoel Ribeiro dos Santos  (Líder Comunitário), Jorene Soares Barbosa Rocha (Líder Comunitário), José Dionísio Filho (Instituto Lina Galvani), Judi Cavalcante (Avesso Sustentabilidade), Juliana C. Andrigueto (Holcim) Juliana Rehfeld, Laura Silva Marques Felix, Ligia Pimenta (Facilitadora), Ligia Saad (Instituto Votorantim), Madalena Cabral (Holcim), Márcia Andaluza Xavier (Instituto Lina Galvani), Márcia Bellotti (Takao Consultoria), Mauricio Ferreira (Instituto Holcim), Paula Contim (Natura), Paulo Mindlin (Origami), Paulo Ricardo Rita (Fundação Bunge), Priscila Leão dos Santos (Camargo Correa), Ricardo Auzier (Galvani), Ricardo Mavestite (Galvani), Rodolfo Galvani Neto (Galvani), Rosa Maria Ribeiro da Mata Rocha (Líder Comunitário), Sandro Augusto Ferreira (Líder Comunitário), Sérgio Andrade (Agenda Pública), Sergio Kuroda (Instituto Lina Galvani), Sônia Loureiro (Consultora), Sylvia Guimarães (Vagalume), Tatiana Brasil Nogueira (Instituto Holcim), Tatiana Mischan Rodrigues (Instituto Lina Galvani), Vinícius Precioso (Avesso Sustentabilidade), Vitor Galvani (Instituto Lina Galvani) e Willian José de Souza Ferreira (Líder Comunitário).

Redação do documento: Márcia Thomazinho e Cecília Galvani (Instituto Lina Galvani).