* Documento que traz as principais ideias, crenças, valores, motivações e desafios do desenvolvimento comunitário, levantados e discutidos durante o encontro “Desenvolvimento de Comunidades Impactadas por Grandes Empreendimentos” – promovido pelo Instituto Lina Galvani, no dia 23 de setembro de 2013, em São Paulo.

 

Hoje, 23 de setembro, nos reunimos como um grupo representativo e eclético para compartilhar indagações e angústias existentes em relação ao Desenvolvimento de Comunidades Impactadas por Grandes Empreendimentos.

Percebemos que as questões vividas pelo Instituto Lina Galvani neste novo cenário em que se encontra o Investimento Social Privado também estão presentes no dia a dia de outros CNPJs e endereços: o alinhamento com o negócio, os ganhos estratégicos da promoção do desenvolvimento comunitário, o como fazer, independente de quem faça e a licença social para operar como um dos frutos do trabalho.

Para muitos, a grande preocupação é a diferença entre o tempo do desenvolvimento comunitário – que leva tempo – e a urgência dos negócios. É o cabo de força de contribuir para o desenvolvimento da sociedade e em paralelo lidar com a pressão da empresa de ter resultados rápidos.  Muitos de nós concordamos que não há mais como pensar na ação social deslocada da empresa. Esse pudor não existe mais, a convergência empresa-instituto já está acontecendo. Isso é bom tanto para a comunidade quanto para os negócios. Um dos grandes desafios parece ser o de criar indicadores e metodologias de trabalho devidamente sistematizadas e que demonstrem o retorno do investimento.

Quando paramos para pensar nas crenças, valores, premissas, motivações e desafios que permeiam nossa prática, algumas coisas nos unem. O que nos motiva a seguir adiante? O investimento no bem comum. Que os processos sejam mais pelo amor e não pela dor. O que isso significa?

Que é preciso atentar para o diálogo como importante ferramenta nos processos de desenvolvimento comunitário, criando uma relação de confiança. Quando falamos de diálogo, falamos também de “escuta ativa”, ou seja, alcançar o equilíbrio do grupo, permitindo a manifestação dos diferentes modos de ver, pensar, perceber e estar naquele contexto. Alguns trazem que talvez faça mais sentido pensar num processo equilibrado apesar das diferenças de poder, ou seja, aquele que reconhece e acolhe as assimetrias.

A importância de abrir espaço para que todos os atores participem da construção dos projetos também é algo que muitos de nós consideramos importante. O engajamento da comunidade deve ser contínuo: quando a comunidade participa do desenho desse desenvolvimento, ela se apodera e se torna coautora do mesmo.  Porém, alguns de nós acreditamos que os papeis precisam ser claros e diferentes, pois a comunidade tem saberes distintos dos especialistas. Cada qual pode trabalhar com o seu saber. Outros de nós sustentam que é importante olhar para o desenvolvimento das capacidades dos atores locais e valorizar os diferentes saberes. 

Também percebemos que os resultados e interesses são diferentes para cada ator e é preciso ter clareza desses tempos, expectativas e estilos. Podemos notar que a existência de agendas ocultas, ou seja, dos interesses não manifestos de alguns atores, geram desconfianças. Para trabalharmos na relação de confiança temos que primar pela transparência nos diálogos e alinhar as expectativas. Podemos ter objetivos individuais e ainda assim construir objetivos coletivos. Acreditamos que cada um possa dar a sua contribuição.

Neste sentido, como é possível gerar o bem comum e valor para o negócio? Um dos caminhos que conseguimos vislumbrar foi o investimento na capacitação e articulação com o poder público, que consegue escala para os investimentos. Além disso, trabalhando alinhados às políticas públicas, conseguimos demonstrar o retorno do investimento de maneira mais clara.

Mas muitos de nós acreditamos que a ação articulada entre todos os atores sociais requer tempo. E o tempo das empresas é outro. Não podemos começar a operar socialmente no território quando começamos a prospectar os negócios? Além disso, para juntar diferentes atores muitos de nós defendem que é preciso investir na educação. Na educação para o diálogo e para a convivência. Mais Piaget e menos Pinochet. E confiar no conhecimento de cada ator, estimulando o desapego em relação ao controle total do processo. O processo acontecerá não necessariamente da maneira que nós havíamos programado, mas caminhará na mesma direção.  E é isso que buscamos.  

Hoje, sentimos a importância de parar, refletir, olhar o que a gente tem feito, estabelecer parcerias e construir novos conhecimentos a partir da experiência de cada um. Entendemos que este foi um encontro providencial que começa a soltar os nós e mobilizar as pessoas para que haja um salto de qualidade em nossas atuações. Sempre que pessoas diversas se reúnem de boa vontade para falar sobre um tema, a conversa tende a ser boa. Colher do aprendizado coletivo aquieta o coração.

Participantes do encontro: Adriana Deróbio (IDIS), Ana Letícia Silva (GIFE), Ana Maria Wilheim (Consultora), Andre Degenszajn (GIFE), André Silva Spínola (SEBRAE), Aron Belinky (GVces), Carlos Lopes (Consultor), Carol Righ (Camargo Corrêa), Carolina Simonetti (Votorantim Cimentos), Cecília Galvani (Instituto Lina Galvani), Celia Schithler (Consultora), David Canassa (Votorantim Industrial), Eleno Gonçalves Jr.(Consultor), Felipe Brito (ICE), Felipe Furini Soares (Instituto Camargo Corrêa), Fernanda Ávila (BRF), Francisco de Assis Azevedo (Instituto Camargo Corrêa), Gislaine Garbelini (Petrobrás), Isabel Ache (Fundação Vale), José Dionísio Filho (Instituto Lina Galvani), Julia Spinasse (Bradesco), Luciana Foresti Lanzoni (Instituto BRF), Maíra del Papa (Origami), Márcia Andaluza Xavier (Instituto Lina Galvani), Maria Julia Pinho (BNDES), Melissa Pimentel (Origami), Mônica Bacchiega (Galvani), Paulo Neto (Petrobrás), Rafael Gioielli (Instituto Votorantim), Raquel Negrão (Consultora), Renata Ballvé Ebert (Braskem), Renata Pereira (Care Brasil), Ricardo Barbosa (Votorantim Metais), Rodolfo Galvani Neto (Galvani), Rodrigo Alvarez (IDIS), Sérgio Andrade (Agenda Pública) e Sônia Loureiro (Consultora).  

Redação do documento: Ana Clara Dumont e Gabriela Azevedo de Aguiar (Instituto Lina Galvani)