Mariângela Pinho foi uma das idealizadora do Parque Fioravante Galvani, ocupando cargos de Diretoria do ILG e Coordenação deste projeto desde sua fundação em 2006. Veterinária de formação, após a experiência de 5 anos no Parque, ela se diz também um pouco bióloga, engenheira florestal e bastante conhecedora do cerrado. Após deixar a Coordenação do PFG, tornando-se consultora de seus principais projetos, Mariângela fala um pouco de sua experiência, desafios, conquistas e aprendizados à frente deste centro de referência do cerrado baiano, como ela mesma denomina.

Mariângela e um dos lobos-guará do PFG - mar/2008

Fale um pouco de você de sua trajetória no ILG e no PFG.
Estou no projeto do Parque mesmo antes do ILG ter nascido. O Rodolfo (Rodolfo Galvani Jr., sócio-fundador e presidente do conselho de administração da Galvani) começou a me fazer a proposta em 2000. Em 2003 o projeto já estava pronto, e em março, eu já o apresentei no IBAMA. Saiu a licença prévia pra começar a fazer as obras depois de um ano. A Galvani assumiu toda a estrutura inicial. Até então o projeto era de um Criadouro Conservacionista, a gente nem tava falava em Educação Ambiental ainda, muito menos em Viveiro de Mudas. Foram 2 anos de obras e tudo era eu que cuidava, material de construção, acompanhava pedreiro, conseguia licença. Fazia tudo e fui aprendendo junto. Sugeri de fazer a inauguração no dia 11 de setembro de 2006, que é o dia nacional do cerrado, assim já ficaria um presente pra cidade em comemoração a esse dia. Antes da inauguração, eu conheci a Márcia Xavier (Coordenadora do Núcleo de Educação Ambiental do PFG), sabia que ela era a única pessoa que trabalhava com projetos de educação ambiental dentro da cidade. Começamos a construir juntas o projeto de EA. Em 2006, como já tinha uma previsão de inaugurar o Parque, fui atrás de uma escola pra fazer um projeto de educação ambiental continuada. Nasceu o primeiro projeto, o Renasce o Cerrado, com nome escolhido pelas crianças. O Viveiro começou com as visitas monitoradas, como não tinha muita coisa pra ver, a gente incluiu o plantio. O primeiro animal foi o cervo, depois veio a arara azul. A gente lançou a campanha Adote uma Espécie na inauguração. Demorou um ano para o cervo ser adotado. Aí veio a construção do recinto da ararajuba, o primeiro recinto do lobo, depois foi dos bugios, do tamanduá, do gavião, e por último, do veado catingueiro e arara-canindé que serão realizados também.

Quais foram seus principais desafios e aprendizados a frente do PFG?
O maior desafio foi bem no começo, conseguir a credibilidade dos órgãos ambientais, depois do poder público, da sociedade. Era o primeiro projeto da região oeste da Bahia, não se falava em criadouro conservacionista. Falavam de zoológico, mas eu tinha que mostrar que era um contexto diferente, que era muito mais do que esse conceito de apenas visitação, de usar os animais como uma vitrine, que tinha um porquê aquelas espécies estarem lá.
E depois a proposta de educação ambiental para as escolas, as escolas só procuravam a gente em momentos pontuais: semana do meio ambiente ou da arvore. Aos poucos, fomos mostrando o trabalho e hoje em dia o PFG é referência em educação ambiental na região. Hoje as escolas vão até lá, e conseguimos mostrar o porquê de alguns indivíduos terem que ficar naquele espaço limitado, que eles são, na verdade, material genético para formar uma futura população.
Outro desafio foi quando a Galvani falou “agora vocês tem que andar com as próprias pernas”. A Galvani fez o investimento inicial e tínhamos que começar a captar para ampliar as ações. Mas pra captar, teríamos que ter uma história, conquistado um espaço. As coisas aconteceram na hora certa, primeiro a gente foi conquistando credibilidade, conhecendo o público, pra depois começar a ter abertura para captação de recursos. E o desafio atualmente é aumentar o número de parceiros e fidelizar os atuais.

Com autoridades e parcerios durante o lançamento da campanha APP 100% Legal - ago/2011

E as maiores conquistas?
As conquistas são as parcerias, os resultados dos projetos que a gente tem. Nas 3 diferentes áreas a gente tem conquistas: uma ação continuada com educadores, reprodução de animais. O viveiro, atualmente, é o único da região que trabalha em arborização urbana e é importante na área de restauro da região.

E os maiores aprendizados?
Eu olho pra trás e falo: eu cheguei lá veterinária, com uma formação acadêmica. E saí de lá um pouco bióloga, um pouco engenheira florestal. Eu não sabia nada sobre o cerrado. Eu andava no meio daquelas árvores e não sabia identificar. Tem uma pessoa super importante que foi a Harue Ariga, que foi me mostrando as espécies. Eu estudava o que cada espécie tinha pra oferecer, na parte medicinal, as propriedades importantes, todas as características. Aí eu fui aprendendo e hoje já consigo identificar muita coisa. Consegui sair com uma bagagem muito grande. Um pouco de gestão de pessoas também. Até então era eu e eu. Hoje, estamos com uma equipe multidisciplinar.

Como você enxerga a importância do PFG na luta pela a preservação do cerrado?
O Parque, hoje, é referência na região oeste. O cerrado baiano tem um centro de conservação que é referência em trabalhos de pesquisa com animais em cativeiro, que já publicou algumas coisas. É referência para as universidades, uma ponte de pesquisa para monografias, tanto na área de fauna, quanto de flora. Referência de projeto continuado de Educação Ambiental. Atuando nessas três frentes, conseguimos trabalhar a conservação do cerrado, é difícil trabalhar numa linha só. E por trás de tudo isso, trabalhar o social, os projetos são sócio-ambientais. A Galvani é uma grande parceira dos agricultores, do Oeste da Bahia. E o Parque é uma referência para os agricultores que querem se envolver em projetos sócio-ambientais, que querem fazer trabalho de restauro de árvores, que querem andar de modo adequado. Acho que vem a aliar: a Galvani como um parceiro na parte de produção, de pesquisa e, o Parque, um parceiro na conservação, no restauro, nos projetos sócio-ambientais. Os dois dando as mãos para os agricultores, cada um na sua expertise.

Que recomendações você daria para a equipe do ILG que continuará cuidando e viabilizando as ações do Parque?
O Parque, no decorrer dos anos, foi ganhando seu espaço nestas 3 áreas. A recomendação é continuar buscando parcerias. Através de parcerias a gente vai conseguindo diagnosticar demandas da região, para desenvolver novos e diferentes projetos nestas 3 áreas. E bola pra frente! Com o desafio de manter essas características e mostrar que tem capacidade de ampliar. Este é o momento do Parque! É possível vislumbrar várias possibilidades. E claro, de modo coerente, não querendo dar um passo maior que as pernas. Como sempre foi, um passo de cada vez.
Eu tenho que agradecer. Primeiro à Galvani que começou o projeto, pela credibilidade no meu trabalho. E depois ao ILG, por confiar em mim, me dar apoio e ter me dado essa possibilidade. E agradecer a equipe porque sozinha não tinha saído nada. Todo mundo que hoje em dia está lá ou passou por lá tem o seu espaço, que foi essencial para o sucesso que tivemos até hoje.

O ILG também agradece a Mariâgela por todos estes anos de dedicação e paixão pelo PFG e a causa da preservação do cerrado. Esperamos tê-la sempre por perto e a desejamos boa sorte em sua nova caminhada!
E aproveitamos para dar boas-vindas ao João Santana, Coordenador do ILG em LEM e o mais novo membro da nossa equipe!