O mutirão realizado em Angico dos Dias para a construção da Praça São José foi marcante para toda a comunidade. Crianças, jovens, adultos e idosos participaram com afinco da atividade e, ao final de três dias, viram nascer um novo espaço de encontro e lazer no povoado. Para homenagear a todos os que colocaram a mão na massa para ver esse sonho realizado, conversamos com representantes de duas gerações que participaram do mutirão: a estudante Cássia Q. Pereira da Costa, de 19 anos, e o agricultor Jonas Fernandes da Silva, de 64 anos, nascido em Angico, onde vive com seus seis filhos e onze netos. Eles nos contam sobre como se envolveram na atividade e a importância de iniciativas como essa para a comunidade.

Cássia e S. Jonas - set/2013

CÁSSIA Q. PEREIRA DA COSTA, 19 anos, estudante

Como você participou do planejamento do mutirão?

Há dois anos a comunidade sonhou com esse projeto e o governo não se moveu para fazer nada. Então nos reunimos e conseguimos fazer. Fizemos uma semana de captação de recursos nas cidades de Campo Alegre, Caracol e aqui em Angico. As pessoas receberam a gente muito bem! Aqueles que não puderam contribuir com recursos materiais, vieram ajudar, trouxeram plantinhas. No dia antes do mutirão, para chamar a atenção das pessoas, pegamos uma porção de panelas e saímos batendo na rua, chamando as pessoas, fazendo a maior bagunça para promover a ação. E deu super certo, né?

Você esperava ver tanta gente?

Olha, não esperava. O pessoal supreendeu! Fiquei orgulhosa e realmente me emocionei, até chorei no último dia. Parecia algo muito distante de acontecer. Foi lindo ver o povo se reunir para fazer a praça.

Teve algum fato mais marcante para você nestes três dias?

Na reunião que a gente estava montando a maquete de como ia ficar a praça, teve uma criança que chorou quando viu o parquinho na maquete. Ela nunca imaginou que aqui iria ter um lugar assim para ela. Outro fato que me marcou aconteceu na sexta-feira. Estávamos em muita gente e era preciso fazer o almoço para todos do mutirão. Sem ninguém mandar, as crianças pegaram um monte de panelas e saíram fazendo a mesma bagunça que tínhamos feito para chamar o pessoal no dia anterior. Elas se dividiram em grupos e saíram cada um para um canto pedindo alimentos às pessoas, arrecadando doações. E ganharam bastante coisa!

Nessa experiência, qual foi sua maior descoberta pessoal?

Eu não sabia que ajudar a comunidade iria me trazer uma felicidade imensa. Senti uma paz interior tão grande que quero fazer isso mais vezes. Eu também descobri que é possível envolver as pessoas, que tenho essa capacidade de reunir. Porque nos dias do mutirão eu saí nas casas atrás de pedreiros para ajudarem, por exemplo, e consegui conversar e levá-los para a praça. Era algo que não sabia que conseguiria e foi um grande aprendizado. Essa experiência me deixou mais motivada. Agora, eu sei que vale correr atrás que o pessoal vai, sim, ajudar a comunidade.

O que você acha que a Rede Social mudou na comunidade?

Ela conseguiu unir mais as pessoas. Fora a praça, há vários outros projetos que estão dando certo. É o caso do Grupo de Geração e Renda, que as meninas já estão colocando em prática e vendendo seus produtos. Também houve a conquista dos filtros de barro, da caixa d’água e também da bomba hidráulica. Isso tudo acaba melhorando a qualidade de vida da população. E é importante que são conquistas da própria comunidade, que acaba dando mais valor para elas. Se fosse algo dado pelo governo ou outra instituição, acho que as pessoas não teriam tanto a preocupação de cuidar. Mas como foram elas que fizeram, o sentimento é diferente.

O que vai mudar de agora em diante depois dessa mobilização?

Acredito que uma coisa que já mudou foi o jeito com que as pessoas recebem a gente. Senti que todos se empolgaram e querem continuar, fazer novos mutirões. Agora vamos cuidar dos detalhes, usar o material que sobrou e, caso falte, vamos nos reunir e ir atrás novamente para arrecadar. Não queremos parar! Esse foi só o primeiro de muitos mutirões.

JONAS PEREIRA DA SILVA, 64 anos, agricultor

A praça era um sonho para a comunidade?

A praça foi um sonho que realizamos em três dias! Eu nem dormi à noite, porque para mim parecia que era algo que não estava acontecendo. Acho que pelo tempo todo que a gente tinha lutado por essa praça e nunca tinha conseguido nada, só promessas. Então achávamos que essa praça nunca aconteceria por aqui. Quando vi acontecendo, parecia que era um sonho mesmo.

Como foi a sua participação no mutirão?

Antes dos dias marcados, fizemos uma caminhada no povoado para chamar o pessoal. No início tinha algumas pessoas que não queriam participar. A palavra que dávamos era só de muito obrigado. Mas no fim conseguimos um batalhão de gente! Lutamos e estamos vencendo. Já conseguimos a praça com todos.

Como foi ver tanta gente envolvida?

Olha, fiquei muito emocionado ao ver o pessoal que chegou junto com a gente. Não estava esperando tantas pessoas. E todo mundo com muito gosto, com vontade de fazer mesmo! Até os pequenos colaboraram – foi só falar que ia ter brinquedo para as crianças que, pronto, aí não faltou mais garotada para ajudar. Foi um grupo unido, muita gente mesmo, parecia uma feira, que junta uma multidão.

O que achou do resultado?

Eu achei que foi algo muito importante no meio de uma comunidade como a nossa e gostei muito da praça. De agora em diante, acredito que vai mudar muita coisa para nós, porque valoriza o local da gente.

O que você acha do trabalho da Rede Social?

Cada dia que passa eu estou gostando mais da Rede Social. E temos que cultivar mais e mais ela, porque é possível fazer muita coisa. Eu comecei indo nas palestras e gostando, então passei a chamar os outros companheiros e formamos um grupo maior. É algo muito importante o trabalho da Rede Social em Angico, pois a situação melhorou 100% de uns anos para cá. Conseguimos a caixa-d’água, o reforço do calçamento, a praça… isso melhora a qualidade de vida de todo mundo. E se mais pessoas participam, fica mais fácil, porque a união tem a força.