“Quando você vê a alegria da outra pessoa e percebe que o trabalho deu resultado, que realmente ajudou seu semelhante, o grau de satisfação não tem preço”. É dessa forma que Reinaldo Batista Correia, projetista elétrico da empresa Galvani, define a importância de seu trabalho no Projeto de Voluntariado do Jaguaré.

No segundo semestre de 2016, Reinado deixou de lado o crachá da empresa por algumas horas e se transformou em “professor” de crianças da comunidade do Jaguaré, localizada no entorno da sede da Galvani, em São Paulo. A atividade foi realizada com a Associação Aquarela, que atua no bairro, e foi uma das ações do Projeto de Voluntariado desenvolvido na empresa pelo Instituto Lina Galvani.

Além da “Oficina de Valores” ministrada por Reinaldo, a parceria também envolveu os funcionários na construção de um jardim vertical e de uma placa na sede da ONG.. Para saber mais sobre a atividade desenvolvida pelo Projeto de Voluntariado do Jaguaré e o trabalho da Associação Aquarela, conversamos com Reinaldo e também com Janete Rios Rocha, coordenadora da unidade da ONG na comunidade. Confira:

Reinado Batista Correia – projetista elétrico da empresa Galvani e voluntário

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Conte um pouco para a gente como foi a atividade que você realizou em parceria com a Associação Aquarela.
Desde o início, a gente determinou fazer um curso sobre valores humanos com as crianças. O tema foi escolhido porque percebemos que há muito valores que, no decorrer do tempo, estão desaparecendo, como boas maneiras e respeito ao próximo, por exemplo. Então, focamos a oficina na área de educação, no sentido reforçar valores que, hoje em dia, às vezes as crianças não dão muita atenção.

De que forma foi tratado o tema?
Por meio de histórias, abordamos valores como bondade e parceria, além de questões relacionadas a valorização dos talentos dos outros, a aproveitar o seu máximo, a não pagar o mal com o mal, a tratar os outros como gostaria de ser tratado. Tivemos a participação de muitas crianças e foi meu primeiro contato com elas, então teve um período inicial de conhecimento. Mas, depois, percebi que elas estavam gostando da aula quando lamentavam que o tempo das oficinas tinha chegado ao fim. Nesse momento percebi que as aulas estavam tendo um efeito positivo.

Como foi a participação das crianças?
Elas participaram bem. Faziam comentários, respondiam as questões, trabalhavam em grupo, decidiam juntas os significados das palavras. A cada aula, mudávamos a maneira de passar para elas as informações e íamos ajustando de acordo com o interesse e participação das crianças.

Qual a importância de trabalhar os valores com as crianças?
É importante reforçar os valores éticos e morais. Hoje, as pessoas perderam o respeito e as boas maneiras. A gente vê exemplos disso no metrô e no trânsito, por exemplo. Dizer “obrigado” e pedir “por favor” são ações que, muitas vezes, as pessoas esquecem. Esses valores, que no passado existiam, vemos que estão degradando à medida que o tempo passa. Então, é importante passar isso às crianças, para que elas cresçam com esses valores. É lógico que tem a educação dos pais e da escola, mas a gente visou dar esse reforço.

São os valores que formam a base, não é?
Exatamente. A pessoa tem que ter esses valores desde cedo porque vai crescer um adulto melhor. E a base de tudo é a criança. Ela é a plantinha que está crescendo e precisa ser bem cuidada desde seu início. É importante cultivar bons valores que elas vão levar para a vida toda. São valores práticos que funcionam em todo tipo relacionamento, seja familiar, profissional ou em sociedade. E as crianças acabam agindo como multiplicadores. Em uma das aulas, por exemplo, eu pedi que cada uma indicasse as duas principais qualidades dos seus pais. Depois, orientamos que chegassem em casa e dissessem pessoalmente a eles que admiravam essas qualidades e que os amavam muito por conta delas. Houve esse incentivo ao relacionamento familiar. Hoje em dia, por conta da correria, nem sempre os pais têm tempo de ficar com os filhos. Mas quando há um diálogo, a coisa melhora. Por isso a importância de gerar a conversa. Esse bate-papo fortalece o vínculo familiar e deixa a relação com mais qualidade.

Na sua visão, qual a importância de participar de um programa de voluntariado?
Quando você dá de coração, sem ter o lucro financeiro, e ajuda uma pessoa, o benefício é mútuo: tanto para ela que está recebendo quanto para você. Às vezes, a mais felicidade não está em receber um presente, mas em dá-lo a alguém. Quando você vê a alegria da outra pessoa e percebe que o trabalho deu resultado, que realmente ajudou seu semelhante, o grau de satisfação não tem preço!

Janete Rios Rocha – coordenadora da unidade do Jaguaré da Associação Aquarela

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Você poderia falar sobre o que é a Aquarela e como é o trabalho que ela realiza?
A Aquarela é uma organização sem fins lucrativos e atua na área de educação não formal realizando um trabalho no contra turno da escola na área de complementação escolar. Aqui, a gente pretende sempre fazer um trabalho junto às crianças para que melhorem a sua convivência e conheçam seus direitos e deveres. Para isso, usamos diferentes linguagens, como o teatro, a musicalização, a mediação de leitura, a contação de história e a tecnologia da educação. Vamos agregando as diferentes linguagens para que eles possam compreender o mundo de outra maneira.  Atendemos até 100 crianças na comunidade do Jaguaré, com duas turmas no período da manhã e duas à tarde, divididas por faixa etárias: de 6 a 9 anos e de 9 a 12 anos.

O que muda na vida das crianças a partir da participação no projeto?
Acho que muda muito a questão de conviver, de aprender a se relacionar com o outro, de olhar o outro com respeito. Percebemos ainda que há outros resultados mais ligados a questões cognitivas. No processo, elas vão aprendendo melhor a leitura e a escrita, os símbolos, os códigos, a ouvir, a falar, a esperar, a se comportar nos diferentes espaços com respeito e responsabilidade. Não é, claro, uma coisa que vem do dia para a noite, é um processo. Tudo na vivência, no dia a dia.

Assim como na “Oficina de Valores” realizada com o Projeto de Voluntariado, vocês fazem uma formação de base social.
Sim, também. A gente também procura trabalhar através de histórias, de notícias do jornal. Usar a realidade, mas por meio de uma maneira lúdica, trazendo questões de moral, de ética, de construção do caráter, de ver as coisas diferentes. E sem impor, porque as crianças vão construir depois o seu jeito de pensar e de agir. Para isso, eles precisam ter diferentes possibilidades e oportunidades. Com relação à oficina realizada com o Projeto de Voluntariado, acho que alcançamos o objetivo, que era trazer para as crianças, de maneira lúdica, a questão de ética, de responsabilidade, de companheirismo, de respeito ao outro. O Reinaldo trouxe temas que eram necessários naquele momento e de uma maneira bonita, pela leitura de fábulas e uma literatura legal, acessível e fácil.

Na sua visão, qual a importância das empresas terem um programa de voluntariado e trabalharem nas regiões nas quais estão localizadas?
Eu acho que tanto a empresa quanto a comunidade ganham muito com isso. Porque a gente vai aprendendo a olhar o ambiente onde trabalhamos de uma maneira diferenciada e dar importância a essa região. As parcerias com as empresas são imprescindíveis. Aqui no Jaguaré, por exemplo, existe uma questão muito séria de vulnerabilidade social e se as empresas não olharem para isso, elas não conseguirão se transformar junto com as instituições e organizações. Se elas não ajudarem a cuidar da do entorno no qual estão inseridas, como vai ser daqui para a frente? Temos que sair apenas da posição crítica, negativa, e ter ações proativas para construir um ambiente melhor.