História de vitória de uma espécie emblemática e ameaçada da fauna do Cerrado

por Mariângela P. de Pinho

Primeiras imagens do filhote de lobo-guará no PFG - jun/2012

A história começa com Lola, uma fêmea de lobo-guará, da região do Cerrado do estado do Rio de Janeiro que, após ser vítima de atropelamento em rodovia, foi submetida a amputação de seu membro posterior. A partir disto, ela estaria condenada a passar o resto da sua vida em um recinto isolado de um zoológico do Rio. Em 2007, esta loba foi transferida para um criadouro conservacionista no Parque Fioravante Galvani (PFG), oeste da Bahia, para que tivesse mais espaço em um recinto com vegetação típica do Cerrado, fosse admirada pelos visitantes dos programas de educação ambiental e quem sabe, pudesse reproduzir. No Parque já vivia Charlie, um macho da mesma espécie que, quando filhote, havia sido encontrado em uma fazenda da região de Luís Eduardo Magalhães (BA), em péssimo estado nutricional, vítima das queimadas, mas que no PFG pode se recuperar e desenvolver. Lola e Charlie se encontraram e após alguns anos, se reproduziram, gerando dois filhotes, dos quais apenas um sobrevive.

Os animais selvagens mantêm o instinto de sobrevivência para perpetuação de seus genes, mas muitas vezes as ações do homem, como a caça e a destruição de habitats naturais, dificultam a procriação. Na história deste casal de lobos-guará, a ajuda do homem foi crucial para a garantia de sua diversidade genética e a continuidade da espécie. Vários esforços culminaram nesta vitória: o trabalho dos técnicos – veterinários e biólogos, a construção e manutenção do recinto adequado para o casal, o fornecimento de uma dieta balanceada, os cuidados diários dos tratadores e, também os recursos financeiros do Instituto Lina Galvani e seus parceiros para manter o único criadouro conservacionista de animais do Cerrado do oeste da Bahia.

Este resultado legitima ainda mais a importância dos criadouros conservacionistas, por possibilitarem que dois animais de regiões diferentes se encontrem e reproduzam, gerando filhotes que poderão contribuir para as pesquisas em cativeiro. E quem sabe, no futuro, participarem de programas de reintrodução no habitat natural, garantindo a sobrevivência de uma população que atualmente está em declínio.

Mesmo sabendo que ainda é cedo para comemorar, pois apesar do filhote se apresentar saudável sob os cuidados da mãe, sabe-se que, assim como a taxa de reprodução, a de sobrevivência de filhotes desta espécie em cativeiro também é baixa. Mas como não comemorar a vitória depois de tantas batalhas vencidas pela sobrevivência do casal e da espécie? Aliás, este filhote até já teria um nome, se fosse fêmea, Vitória, mas como se trata de um macho, precisaremos pensar em um nome tão especial quanto a sua história.