Como medir algo que parece intangível? A questão geralmente volta à tona nas instituições que lidam com o desenvolvimento de pessoas e de comunidades. Mensurar o trabalho social e suas particularidades e resultados é um desafio. Porém, em 2014 o Instituto Lina Galvani decidiu abraçar essa missão e se debruçou sobre o tema para analisá-lo em seus mais diversos aspectos. Desde o início do ano, está em curso o projeto de criação de Indicadores para a Metodologia de Desenvolvimento Comunitário ILG.

 

Equipe do ILG e Sérgio Esteves durante encontro para a construção de indicadores de DC - jun/2014

Equipe do ILG e Sérgio Esteves durante encontro para a construção de indicadores de DC – jun/2014

PRIMEIROS PASSOS Na etapa inicial, coordenada pelo consultor Sérgio Esteves, sócio-diretor da AMCE Negócios Sustentáveis, a equipe do Instituto focou na análise da sua atuação e no mapeamento de referências associadas aos direcionadores e metodologias utilizadas. “Essa reflexão sobre a prática é fundamental para deixar o nosso trabalho vivo, dinâmico e aberto para as novas possibilidades que se criam quando você inicia um relacionamento com uma comunidade ou com novas pessoas. Então, esse momento de fazer uma análise crítica foi muito importante”, diz Cecilia Galvani, diretora-presidente do ILG.

INDICADORES Após aprofundar-se sobre a missão, valores e metodologia do ILG, bem como em questões relacionadas ao fortalecimento institucional, a equipe passou para a etapa de discussão e construção dos indicadores de Desenvolvimento Comunitário. Foram definidos 13 deles: [1] Confiança, [2] Pertencimento, [3] Participação, [4] Participação dos atores locais nos processos decisórios, [5] Relacionamento com outros atores, [6] Perfil da liderança local, [7] Identificação de novas lideranças, [8] Governança das Organizações de Base, [9] Ampliação do repertório local, [10] Autoestima, [11] Acesso a bens e serviços essenciais, [12] Aumento de renda e [13] Alavancagem de recursos direto para a localidade.

“A necessidade de criação desses indicadores nasce da demanda de conseguir tangibilizar nossa atuação para poder apresentar resultados para um público que não necessariamente compartilha dessa cultura do trabalho social. Além de suprir essa necessidade, a criação dos indicadores vem também agregar à própria metodologia, dar mais consistência a ela. Com essa ferramenta, conseguimos, digamos,medir como estão alguns aspectos da comunidade e ter uma atuação cada vez mais precisa de acordo com a realidade na qual estamos atuando”, explica Cecilia.

Moradores de Angico durante roda de conversa do projeto piloto - set/2014

Moradores de Angico durante roda de conversa do projeto piloto – set/2014

PROJETO PILOTO Definidos os indicadores para medir os impactos gerados nas comunidades, era o momento de sair a campo para validá-los. Em setembro, um teste foi realizado em Angico dos Dias, na Bahia. Um grupo de seis jovens estudantes aplicou uma pesquisa em uma mostra aleatória de 160 pessoas – cerca de 10% da população – de diferentes faixas etárias. Além disso, foi realizada uma Roda de Conversa com a presença de 30 convidados, entre participantes da Rede Social e de projetos desenvolvidos com o apoio do ILG na localidade. “Com isso, procuramos trazer outro olhar para a avaliação, porque a pesquisa com os indicadores de impacto tem um viés cartesiano, empírico. Então,era importante aproveitar esse momento como uma oportunidade para gerar novas percepções da comunidade em relação a ela e a todo esse processo que a gente vem desenvolvendo juntos”, diz Cecilia.“Foi interessante porque a conversa nos deu mais dados relacionados aos indicadores, além de relatos e histórias de vida. Ela deu mais profundidade e qualidade para essa análise”.

RESULTADOS A tabulação da pesquisa revelou importantes avanços no trabalho realizado pelo ILG em Angico dos Dias. Todos os indicadores apresentaram crescimento quando comparados com 5 anos atrás. Somados aos temas levantados na Roda de Conversa (confira no artigo de Cecilia Galvani, aqui), os resultados traçam um retrato da localidade e indicam alguns caminhos que podem ser seguidos pelo Instituto a partir dessa análise. A experiência em Angico mostrou que a união da pesquisa empírica com momentos de conversa com a comunidade sobre os indicadores pode garantir o equilíbrio ideal na metodologia a ser adotada em todos os locais de atuação do ILG.

“A validação dos indicadores trouxe boas oportunidades para a gente pensar em alguns aspectos que não estávamos olhando muito e traduziu em informações grande parte do que a gente considera como conquista desses anos de trabalho. Foi um momento muito bacana, principalmente na Roda de Conversa, de comemoração de conquistas”, conclui Cecilia.