As Rodas de Conversa sempre tiveram um papel fundamental nas transformações das comunidades. Nelas, a aprendizagem e a troca de experiências entre os integrantes ocorrem de diversas maneiras. Mas o ponto principal está no fato de todos os participantes terem a oportunidade de compartilhar, falar, ouvir e aprender com o outro. A metodologia é essencial para que todos se sintam aceitos e participem da solução.

Afinal, é da troca de experiências que ocorre nas Rodas de Conversa que surgem os caminhos encontrados coletivamente para a resolução dos problemas. Neste ano, foram realizadas sete Rodas de Conversa durante o distanciamento social, todas elas virtuais por conta da covid-19. Os assuntos mais discutidos tiveram uma clara influência do nosso momento na pandemia. Entre eles a falta de recursos para a execução dos projetos sociais, oportunidades de emprego escassa, insegurança e ansiedade frente às dificuldades do ano.

A nossa primeira Roda de Conversa virtual ocorreu em outubro com lideranças comunitárias de Luís Eduardo Magalhães (BA) e Angico dos Dias (BA). O objetivo do encontro foi acolher e apoiar preocupações, fortalecer redes de contato e buscar soluções coletivas para o enfrentamento da pandemia. Foram cerca de 20 participantes. Entre os temas que surgiram estava a preocupação com a paralização dos projetos sociais, a frustração pela falta do cuidado da população com o coronavírus e a impossibilidade de exercer o ofício (trabalho) com a incerteza do amanhã.

Uma das formas de enfrentamento encontrada pelos participantes foi ter nos líderes comunitários o exemplo para as comunidades, passando por meio da sua postura e atitude a energia necessária para o enfrentamento do coronavírus. Na Roda de Conversa do projeto Diversão Não Tem Idade, de Angico dos Dias (BA), o grupo trouxe a preocupação com a pandemia e chegou à conclusão de que para vencer a situação é necessário contar com a ajuda de amigos e familiares. Já na penúltima roda do ano propusemos o seguinte tema: O que aprendemos em 2020?

Os resultados de todos os encontros foram surpreendentes, pois conseguimos levantar as questões e buscar saídas para os problemas e desafios trazidos. Esses encontros também propiciaram que continuássemos próximos e ativos nos territórios em que estamos inseridos.

As nossas Rodas de Conversas nasceram da metodologia da Terapia Comunitária Integrativa, técnica de trabalho em grupo criada nos anos 1980, em Fortaleza (CE), por Adalberto Barreto. A metodologia está ancorada em cinco eixos teóricos (pensamento sistêmico; teoria da comunicação; pedagogia de Paulo Freire – respeitar o saber do outro e primeiro lê o mundo para depois ler a palavra – antropologia cultural; e resiliência).

Entre as premissas da metodologia estão:

  • Ir além do unitário para atingir o comunitário;
  • Sair da dependência para a autonomia e a corresponsabilidade;
  • Ver além da carência para ressaltar a competência;
  • Sair da verticalidade das relações para a horizontalidade;
  • Da descrença na capacidade do outro para acreditar no potencial de cada um;
  • Ir além do privado, para o público;
  • Romper com o isolamento entre o “saber científico” e o “saber popular”.

Os nossos encontros presenciais foram interrompidos por conta da pandemia e tivemos de recorrer aos virtuais para dar continuidade ao que estava sendo construído. Porém, antes de iniciarmos a nova fase, tivemos o desafio de colocar todos os participantes no mesmo patamar de conectividade. Para alcançar isso, fizemos um mapeamento das plataformas de reunião online, analisando quais seriam as mais adequadas para o nosso público e disponibilizamos os nossos colaboradores para dar suporte com o objetivo que todos pudessem participar dos encontros.

As Rodas de Conversas funcionam como instrumento facilitador de aproximação com as comunidades e fortalecimento do tecido social ao longo dos processos, oferecendo possibilidades de escuta, fala e acolhimento, visando a criação de vínculos saudáveis para que a própria comunidade tenha condições de se articular e encontrar soluções para suas demandas.

Que em 2021 tenhamos outras Rodas de Conversa e, se possível, presenciais!