por Célia R. B. Schlithler


A formação de redes intersetoriais é altamente pertinente quando há intenção de provocar desenvolvimento comunitário, isto é, transformações sociais provocadas pelo desenvolvimento do
capital humano e social de uma comunidade.

Podemos chamar de Redes de Desenvolvimento Comunitário aquelas que congregam entidades sociais, empresas socialmente responsáveis, organizações sociais de origem empresarial (institutos e fundações), órgãos do setor público e profissionais independentes, sendo, portanto, intersetoriais. São redes pautadas pela ética, nas quais a participação é incentivada, a diversidade é valorizada e o protagonismo é desenvolvido.

Os objetivos dessas redes são definidos a partir de um diagnóstico relativo à causa, elaborado por meio da ação espontânea e comprometida de seus integrantes, o que leva à construção coletiva de um projeto que irá articular várias organizações para provocar transformações sociais.

Nessas redes, a motivação para que seus membros se unam e permaneçam unidos deriva de valores e princípios comuns e do anseio de agir de maneira solidária. A participação ativa de todos é, portanto, uma qualidade das redes sociais. Outras características importantes são a intercomunicação (circulação da comunicação horizontal, transparente, co-responsável) e a necessidade de mobilização social.

Um princípio norteador deste trabalho é o de que é preciso ser “grupo” e não “agrupamento”, quando os objetivos são transformadores. A diferença entre os dois foi estabelecida por Sartre, que dizia que o agrupamento (ou série) é uma situação de passividade e impotência porque nele cada indivíduo é um número e não se importa com o outro, enquanto que, no grupo, cada sujeito é multiplicado pelos outros e pode interferir na História.

De acordo com Sartre, no agrupamento, há objetivos comuns, mas a comunicação é unilateral e não há visão crítica da realidade externa. De fato, no início do processo de formação de uma rede os representantes das organizações expressam interesses em comum, mas estão autocentrados, voltados para as suas necessidades. Por isso, sua comunicação destina-se mais a “ser escutado” do que a “escutar o outro”. É um momento contraditório: embora exista um reconhecimento expresso da necessidade do outro para atingir os objetivos, resiste-se à interdependência, mesmo que implicitamente.

Para o agrupamento se tornar um grupo, os objetivos comuns e individuais precisam ser reelaborados e passar a ser “comuns a todos”, grupais. É necessário que as pessoas estabeleçam vínculos, condição para que haja compromisso com o grupo e pela causa escolhida por todos.
Para a grupalização acontecer, é preciso haver predisposição positiva dos integrantes para fazer parte e atuar em grupo, mas, além disso, é necessário que alguns integrantes estejam dispostos a assumir o papel de facilitadores do processo. Os facilitadores de um processo grupal são lideranças que:

– Desempenham um papel diferente dos demais (e todos sabem disso);
– Planejam estratégias para favorecer a grupalização;
– Ajudam o grupo a se concentrar nos objetivos;
– Promovem a participação ativa de todos e o desenvolvimento de lideranças.

Em muitas redes, há uma organização proponente, que pode ser uma empresa ou uma organização social. Ela desempenha o papel de facilitadora do processo e deve reunir condições técnicas, materiais e financeiras para isso. Para não estabelecer uma relação de tutela com a rede, essa organização precisará formar alguns integrantes da rede para assumirem o papel de facilitadores.

Artigo publicado no site do IDIS, para lê-lo na íntegra, clique aqui.