Há mais de 30 anos, quando começou a atender os moradores da favela de Pirambu, em Fortaleza, o médico Adalberto Barreto constatou que os problemas compartilhados eram comuns a todos naquela comunidade. Fatores como desemprego e falta de moradia refletiam em sintomas de depressão, insônia e outros males emocionais. Nas rodas de conversa que realizava, percebeu que havia abordagens de antropologia cultural, Paulo Freire e teoria da comunicação, por exemplo. A partir dessa experiência, Adalberto construiu as bases da Terapia Comunitária Integrativa (TCI), uma ferramenta de construção de redes sociais com base no compartilhamento de experiências e saberes e no acolhimento e respeito ao outro.

Não por acaso, quando desenvolvemos a metodologia do Instituto Lina Galvani, utilizamos como um dos pilares a TCI, no seu formato clássico e também adaptada aos momentos específicos do trabalho com as comunidades. Como ela faz parte dos nossos projetos atualmente? Para responder a essa questão e saber mais sobre a Terapia Comunitária Integrativa, conversamos com Valéria Lapa, gerente de Relacionamento Institucional e Comunidades; Jennifer Silva, assistente Administrativo Financeiro; e Auristela Matos, moradora de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, participante de nossas rodas de conversa. Confira:

TCI E A METODOLOGIA DO INSTITUTO

“A Terapia Comunitária Integrativa transpõe o trabalho no coletivo, o ouvir, a escuta ativa, o olhar apreciativo e outras práticas que são inerentes ao trabalho do Instituto. Então, como ela nasce de uma necessidade de ouvir o outro e de encontrar em comunidade as soluções para os próprios problemas, isso fortalece muito a metodologia do Instituto Lina Galvani, que contempla as necessidades que vêm da comunidade”, diz Valéria.

DIFERENCIAIS

“O principal foco da Terapia Comunitária é o fortalecimento de redes. Aplicada em nossa metodologia, ela contribui para nos aproximarmos das pessoas de uma forma mais profunda. Os moradores têm a oportunidade de trazer para a roda de conversa seus problemas, inquietações e outros temas diversos. Principalmente quando estamos da fase de Diagnóstico Participativo nas comunidades, na qual são levantados os anseios locais, conseguimos ter uma outra visão dos problemas e saber, realmente, o que está acontecendo na localidade e o que a população está sentindo”, explica Jennifer.

APLICAÇÕES

“Dentro do passo a passo de nossa metodologia, a TCI é aplicada tanto no momento do Diagnóstico Participativo, a primeira etapa de atuação nas comunidades, como no acompanhamento e mensuração de resultados, de uma forma adaptada. Também temos usado a TCI no seu formato original para fortalecer as redes nas comunidades e incrementar o relacionamento com esse público nos territórios nos quais a empresa Galvani atua”, diz Valéria.

“As rodas de conversa permitem que as pessoas responsáveis por projetos locais dialoguem entre si, fiquem mais próximas. A intenção é fazer a conexão entre elas e, a partir desse contato, partilharem soluções, porque outra pessoa passou pelo mesmo dilema, já conseguiu resolver e pode indicar possíveis caminhos.”
Jennifer Silva

FORTALECIMENTO DE REDES

“A Terapia Comunitária Integrativa é uma ferramenta muito boa para estabelecer laços entre as pessoas, tanto do Instituto com a comunidade como entre os grupos do próprio território. Isso porque a roda de conversa é um espaço de partilha, de compartilhar angústias, sentimentos, temas que precisam ser debatidos. Então, é importante ter um método para que a pessoa sinta-se à vontade para se colocar. E mesmo aquelas que não falam, estão ouvindo, participam e também podem estabelecer contatos”, ressalta Valéria.

“Na TCI, cada indivíduo traz a sua experiência de vida e é ela que nos mostra caminhos para resolver determinadas questões. A Terapia Comunitária Integrativa é uma ferramenta muito apropriada para um ambiente em que a gente quer ouvir, quer ser ouvido e quer respeitar as experiências de todas as pessoas.”
Valéria Lapa

EU PARTICIPO!

“Eu acho ótimo participar das rodas de conversa. Elas nos dão a liberdade para expressar aquilo que realmente temos a necessidade de dizer, sem receber represálias. Vejo como uma cura, uma terapia na vida para algumas pessoas”, diz Auristela Matos. “Eu trouxe a metodologia que aprendi com o Instituto para o meu projeto social Casa de Débora, que auxilia mulheres em situação de vulnerabilidade, e tem sido incrível”, completa.