“Não existe desenvolvimento territorial que seja obra de uma só organização. O mundo está mais complexo e a teia de interdependência é cada vez mais forte. As instituições precisam trabalhar juntas para conseguir transformar esse tecido social tão diverso”. As palavras do sociólogo Arilson Favareto, logo no painel de abertura do encontro Dialogando – Governança para o Desenvolvimento Territorial, de certa forma traduzem o DNA desse evento promovido pelo Instituto Lina Galvani: ampliar a prática do diálogo e da colaboração entre empresas, institutos e fundações, poder público e comunidades.

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Foi com esse objetivo que ele nasceu, em 2013, com o nome de Desenvolvimento de Comunidades Impactadas por Grandes Empreendimentos – Diálogos, Reflexões e Perspectivas. Na sua terceira edição, realizada no dia 11 de setembro passado, o evento foi rebatizado como Dialogando para se aproximar ainda mais da sua vocação original e teve como parceiros na realização a empresa Galvani, o Bloco Brasil da RedEAmérica, a Agenda Pública, o Grupo Diálogo Mineração, Democracia e Desenvolvimento Sustentável e a Avesso Sustentabilidade.

Diálogo e troca de experiências realmente não faltaram durante o dia intenso de painéis, grupos de conversa e plenárias nos quais mais de 80 representantes de diversos setores relacionados ao desenvolvimento comunitário debateram sobre formas e mecanismos de governança para alcançar uma convergência equilibrada de atores, esforços e investimentos em torno de uma agenda comum.

O pontapé inicial

No painel de abertura, “Democratizar conceituações e entendimentos sobre governança e desenvolvimento territorial”, o sociólogo Arilson Favaretto, professor do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão do Território na Universidade Federal do ABC (UFABC), deu uma verdadeira aula a respeito das novas visões que devemos ter sobre os territórios e sobre a importância de levar em conta o seu caráter multidimensional. Ele ressaltou também a necessidade das coalizões – como alianças, parcerias e redes colaborativas – para o sucesso dos projetos que visam o desenvolvimento territorial. “As coalizões de forças sociais locais são extremamente importantes porque sustentam as regras, os acordos, os contratos formais ou informais em torno dos usos dos espaços”, disse.

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Olhar “customizado”

Em seguida, Daniela Gomes Pinto, coordenadora do Programa Desenvolvimento Local do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces), abordou, entre outros temas, os principais aprendizados que reuniu no trabalho em regiões impactadas por grandes empreendimentos, especialmente nas obras da hidrelétrica de Belo Monte que, por suas proporções, são uma espécie de laboratório vivo das transformações sociais e territoriais que podem acontecer após a chegada de investimentos robustos em uma localidade.

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O primeiro, segundo ela, é a necessidade de um olhar mais amplo sobre o território – e não o foco apenas no nível de cada intervenção. “Pois sempre há uma dinâmica muito maior do que a do projeto específico. E a falta de uma visão integrada sobre o que está acontecendo faz com que percamos oportunidades e não sejamos tão eficientes e efetivos nos investimentos”, diz. O segundo aprendizado que Daniela ressaltou é a importância de um olhar “customizado” sobre os territórios, respeitando suas especificidades. “Nesse contexto, entendemos que a forma de operar a governança territorial passa por criar mais espaços de conversa, estâncias de participação e de tomadas de decisões”, diz.

Formação de redes

Para finalizar o painel de abertura, Cecília Galvani, diretora executiva do Instituto Lina Galvani, falou sobre como, ao longo de quase 15 anos, estamos utilizando o caminho da colaboração, do diálogo e do olhar apreciativo no trabalho de desenvolvimento comunitário. Cecília apresentou a metodologia do Instituto e os instrumentos e diretrizes utilizados para medir a evolução dos indicadores sociais nas localidades. Ela também apresentou o case de Angico dos Dias, comunidade do sertão baiano na qual temos diversas frentes de atuação, desde o apoio a grupos de geração de renda à ao fomento de redes, um dos alicerces do trabalho do Instituto.

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“A estratégia que temos usado para o equilíbrio de poderes e para incentivar a participação é a criação de redes sociais. Algumas vezes, elas começam com um conflito da comunidade com a empresa e, aos poucos, ampliamos o debate e abrimos espaços de encontros e de diálogo que ampliam para outros temas de interesse do território. E essa agenda comum acaba tendo um poder de engajamento muito forte”, explicou Cecília.

O poder do diálogo

No amplo salão da UMAPAZ (Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz), no Parque do Ibirapuera, ouviram esse painel de abertura, bem como participaram da etapa de conversas em grupo do Dialogando (veja aqui a reportagem), representantes dos projetos sociais locais, de institutos e fundações empresariais, do poder público, de empresas e de consultorias especializadas em desenvolvimento comunitário. Conversamos com alguns deles sobre o Dialogando. Confira suas impressões:

“A importância de um evento como esse é, principalmente, promover a troca de experiências entre diferentes organizações e atores sobre o que está sendo feito na ponta, tanto em estratégia quanto em gestão. Essa troca é fundamental para as pessoas verem o que deu certo, o que precisa melhorar e conhecer experiências de pesquisa que estão sendo feitas para trazer um maior aprofundamento para o setor.”
Marisa Villi, da Rede de Conhecimento Social

“Como faço parte do poder público, achei de grande importância o encontro e vou levar para a minha cidade, Barroso, em Minas Gerais, um aprendizado excelente.”
Elba dos Santos, da Prefeitura Municipal de Barroso

“A importância desse encontro é enorme por duas razões principais. Primeiro por reunir pessoas de diferentes origens compartilhando seus saberes. E também por produzir novos conhecimentos e dividir práticas. Em se tratando de governança participativa, há uma carência gigante de informações e práticas. O Dialogando vem, justamente, selar um pouco essa questão e trazer novidades para quem está preocupado com o desenvolvimento comunitário.”
Guilherme Rodrigues, consultor em Política Públicas e Projetos Sociais na Herkenhoff & Prates Consultores

“A Galvani, como apoiadora e mantenedora principal do Instituto Lina Galvani, vê que propiciar um debate deste nível, com tantos membros do Terceiro Setor e de empresas que jogam um papel semelhante ao nosso, é enriquecedor pois fomenta o conhecimento em uma cadeia que é bastante relevante para o Brasil. Trazer essa troca e permitir que elos dessa cadeia dialoguem e criem juntos o que pode vir a ser o futuro em uma discussão tão relevante é muito importante para nós.”
Thiago Coletti, especialista de Comunicação da empresa Galvani

“Sou do Ceará e, no meu caso, há poucas empresas na região com conhecimento para discutir esses temas. Então, vale muito a pena ter a possibilidade de ver os conceitos de comunidade sustentável, saber o que está sendo discutido, conhecer exemplos. É muito bom fazer novos contatos que, certamente, irão me ajudar quando eu for trabalhar mais isoladamente na minha região com esses assuntos.”
Emanuele Caselli, da Companhia Siderúrgica de Pecem

“Achei muito importante porque tive noção de como as pessoas ligadas às empresas pensam as comunidades. Porque sou líder comunitário, estou no outro lado, então é diferente meu papel, pois sou eu quem que mobiliza a comunidade para participar dos projetos. Então foi interessante saber como funciona essa movimentação de quem está pensando em nos ajudar.”
Antônio Kreling, líder comunitário em Luís Eduardo Magalhães (BA)

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