“A oportunidade pode transformar vidas”. A frase de Urideia Andrade da Costa reflete um pensamento intrínseco no Instituto Lina Galvani em seus 15 anos de história, celebrados em 2018. A semente para essa constatação foi plantada aqui mesmo em nossa sede. Urideia participou de um dos primeiros projetos sociais desenvolvidos pelo Instituto, o Cozinheiro Cidadão, realizado na comunidade do Jaguaré, em São Paulo. Nas aulas de formação de jovens para atuar no setor de gastronomia, ela não aprendeu apenas uma profissão, mas ensinamentos que carrega até hoje no comando do seu próprio buffet. Para comemorar o aniversário de 15 anos do Instituto, iniciamos esse mês uma série de histórias com pessoas que fizeram parte dessa trajetória. Começamos com a chef Urideia, um exemplo de que, sim, a oportunidade pode transformar vidas.

ENTRADA NO COZINHEIRO CIDADÃO

A minha ida para o projeto foi, inicialmente, uma porta de entrada para a primeira oportunidade da minha vida. Eu tinha só 17 anos, estava terminando o Ensino Médio e queria muito me inserir no mercado de trabalho. Porém, sem nenhum tipo de qualificação e experiência. Quando descobri que haveria esse projeto na comunidade, fui por esse motivo: uma oportunidade de transformação através do curso, para me aperfeiçoar e ter uma profissão. Eu sempre brinco que, a partir do momento que entrei no Cozinheiro Cidadão, me apaixonei à primeira vista pelas panelas de inox. Nunca imaginaria que, por meio de um curso de cozinha, poderia ter a minha vida transformada. Mas foi isso que aconteceu. Além de ter sido um projeto que me deu a oportunidade de me inserir no mercado de trabalho, meu objetivo inicial, foi a chance de transformar a minha realidade.

APRENDIZADO E TRANSFORMAÇÃO

Eu me redescobri. Vinha em um momento de depressão, com problemas familiares e, ali, tive a oportunidade de me redescobrir como pessoa, como ser humano. Principalmente a parte do respeito e do valor pelo ser humano. Esse respeito que eles tiveram conosco durante o curso, nos mostrando diariamente o quanto dependia de cada um de nós realizar nosso sonho, digo sempre que foi o meu maior ingrediente para o sucesso. Fora toda a parte de técnicas culinárias que aprendemos no curso e de me inserir, literalmente, nesse mundo da cozinha que, até então, nunca tinha imaginado fazer parte.

TRAJETÓRIA DEPOIS DO CURSO

Quando ainda estava no Cozinheiro Cidadão, tive minha história de vida retratada na Organização das Nações Unidades (ONU). Fui a Nova York representar o Brasil em uma das 8 Metas do Milênio, a de “Incentivar a Formação Profissional de Jovens em Desvantagem Social”. Lá nos Estados Unidos, passando por todos aqueles workshops e treinamentos e descobrindo a responsabilidade que estava tendo naquele momento, de entre milhões de jovens ter sido a escolhida para representar o Brasil, percebi o quanto o curso me mostrou que eu não queria somente receber, mas retribuir de alguma forma tudo aquilo. Como fazer isso? Ainda nesse encontro da ONU, já surgiu uma vontade gigantesca de replicar o que eles haviam me passado.

Ao voltar, tive a oportunidade de trabalhar em alguns dos maiores restaurantes de São Paulo, como o Tordesilhas, o Boa Bistrô, o Fasano e o Charlô. Logo em seguida, recebi o convite do David Hertz, ex-coordenador do Cozinheiro Cidadão, pra montar com ele a Gastromotiva, um projeto de ensino de culinária para jovens carentes. O Daniel tinha muita vontade de replicar o que tinha feito junto com o Instituto Lina Galvani e me chamou para realizar esse sonho com ele.

Fiquei à frente da Gastromotiva durante oito anos, responsável por toda a parte de execução do buffet de eventos sociais e corporativos. Lá, aprendi desde fazer pesquisas de mercado, quando estávamos montando o projeto, até como capacitar outros jovens. Vi tornar-se realidade aquele meu sonho de replicar para os outros tudo o que havia aprendido!

Depois dos oito anos, me formei em Gastronomia pela Anhembi Morumbi e, com apoio do David, montei meu buffet, o Flor de Mandacaru, que existe há 6 anos. Hoje, tenho uma cozinha profissional aqui na comunidade do Jaguaré e posso retribuir de outra forma, gerando renda para os jovens da região e dando capacitação dentro do meu buffet. Eles veem, aprendem, ganham seu dinheirinho e voltam com alguma experiência profissional para se inserir no mercado de trabalho. Também tenho uma rede de fornecedores na qual acabo priorizando os produtores da região e, assim, vamos trabalhando a economia solidária, onde todo mundo ganha.

“NÃO PERDER MINHAS RAÍZES”

Montar meu buffet na comunidade do Jaguaré foi uma escolha primordial para eu não perder minhas raízes. Fui uma pessoa com dois caminhos a seguir: o certo e o errado. Felizmente, o Instituto Lina Galvani entrou na minha vida no exato momento de fazer essa escolha. Foi pela oportunidade que me foi dada que hoje sou uma pessoa realizada e sempre em busca de sonhos ainda maiores. Então, é mais do que justo eu continuar aqui na comunidade dando essa oportunidade para outros jovens que estão exatamente nesse momento de decidir o que fazer da vida.

Sempre digo que a oportunidade pode transformar vidas e a que tive através do Cozinheiro Cidadão não mudou apenas a minha, mas a de todos os que me cercam e estão até hoje ao meu lado fazendo as coisas acontecerem. Foi uma semente que deu bons frutos e continua florescendo.