por Augusto de Franco

Para ganhar, tem que apostar

Para promover o desenvolvimento comunitário só há um caminho: investir no capital social. Mas se o capital social é produzido espontaneamente, por quê então é necessário investir nele? É uma boa pergunta, não? Para essa boa pergunta temos também uma boa resposta. O capital social só é produzido espontaneamente em certas condições “ambientais”. Se organizarmos as pessoas hierarquicamente, como numa pirâmide e se impedimos a sua participação democrática, então o capital social deixa de ser produzido espontaneamente. Ou melhor, deixa de ser produzido na quantidade e na qualidade necessárias para constituir uma comunidade bem desenvolvida. Por quê? Porque, nessas circunstâncias, a cooperação não está podendo se ampliar e se reproduzir socialmente. Se organizarmos uma sociedade como uma ordem militar, por exemplo, a produção de capital social vai lá pra baixo, para perto de zero.

E se inviabilizarmos que as pessoas se juntem para, a partir da cooperação, decidir sobre o seu próprio destino coletivo e agir conseqüentemente para traçar um caminho em direção ao futuro que desejam alcançar, então o capital social também não vai conseguir ser produzido em quantidade e em qualidade suficientes para promover o desenvolvimento humano e social sustentável daquela coletividade.

Se desenharmos e aplicarmos políticas e programas centralizadores, assistencialistas e clientelistas, então, igualmente, o capital social não vai se produzir e reproduzir na sociedade na quantidade e na qualidade necessárias para promover o desenvolvimento comunitário. Quando praticamos essas coisas – hierarquia, autocracia, centralização, assistencialismo e clientelismo – estamos, simplesmente, criando ambientes sociais nos quais o capital social não pode florescer, se acumular e se expandir, porque estamos inviabilizando a ampliação social da cooperação. Do ponto de vista adotado aqui – o ponto de vista do desenvolvimento comunitário – estamos criando ambientes anti-humanos.

Agora, uma coisa é certa. Se não criarmos tais ambientes – letais para o capital social – e, pelo contrário, estimularmos a existência de redes sociais e de processos democrático-participativos, então é “batata”: o capital social vai florescer, vai se acumular e vai se expandir. Quanto mais fizermos isso, quanto mais redes e quanto mais processos democrático-participativos forem praticados, mais capital social haverá. E mais desenvolvimento comunitário haverá.

Portanto, é necessário investir mesmo no capital social. Mas investir no capital social significa o quê? Significa investir em redes e em democracia local. Ou seja, significa desconstituir as formas de organização piramidais e os processos de decisão centralizadores.

Esse investimento tem que ser feito na prática e não no discurso. Não adianta para nada fazer comícios contra as hierarquias e contra a falta de participação democrática. Também de nada adianta condenar os agentes políticos centralizadores, que promovem políticas e programas assistencialistas e clientelistas. É como se um investidor da Bolsa, ao invés de comprar as ações de uma determinada empresa, quisesse ter resultados apenas elogiando tal empresa e falando mal das outras. Se quiser ganhar, esse investidor tem que apostar. Para investir em capital social é a mesma coisa. Temos que apostar naquela sociedade, naquela comunidade. Temos que acreditar que, provendo a conexão horizontal entre pessoas e grupos, aumentando o número de caminhos entre esses nodos, alguma coisa acontecerá que desencadeará a produção e a reprodução do capital social. Temos que acreditar que abrindo novos espaços de participação cidadã, construindo novas institucionalidades participativas, alguma coisa acontecerá que promoverá o aumento do capital social naquela sociedade.

Este texto é parte do livro O Lugar Mais Desenvolvido do Mundo. Leia o texto na íntegra.