A enxada prepara a terra para o plantio das árvores. O arado aplaina o solo do futuro campinho de futebol. Os mais fortes levantam as bases de um coreto. As plantas passam de mão em mão para formar o jardim. As crianças observam a construção do parquinho onde, em breve, poderão brincar. Bancos e mesas ganham lugares estratégicos para a prosa ao fim da tarde. Tudo pronto, a comunidade celebra a concretização desse sonho conjunto. Sejam bem-vindos à nova Praça Jardim dos Ipês!

Mutirao Baixa (17)

Moradores na preparação para o mutirão

As cenas fizeram parte do grande mutirão que deu vida à praça em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia. No fim de junho, durante dois dias, a população local uniu forças para revitalizar esse espaço e criar um novo local de encontro e convívio para a comunidade. O projeto vem sendo acalentado desde o início do ano passado, quando o Instituto Lina Galvani lançou o programa de desenvolvimento comunitário no município e convidou a comunidade local para pensar possibilidades de melhorias para os bairros Jardim das Acácias, Jardim dos Ipês e Vereda Tropical.
Entre as propostas levantadas, a reestruturação da praça ganhou a adesão da maioria, que queria ver aquele local sem árvores e castigado pelo sol transformar-se em um lugar onde as crianças pudessem brincar, os jovens jogar capoeira e os adultos reunir-se para conversar e praticar exercícios. Mas como transformar esse sonho em realidade? O Instituto Elos, nosso parceiro nesse projeto, nos ajudou na tarefa de planejamento e mobilização utilizando uma metodologia de trabalho que compreende sete passos. Confira como foram as etapas que permitiram o sucesso do mutirão que revitalizou a Praça Jardim dos Ipês:

PASSO 1: OLHAR
É uma etapa de reconhecimento do bairro, com o mapeamento dos potenciais e possibilidades existentes. Uma caminhada pela região permitiu identificar as instituições, os equipamentos públicos, as atividades culturais e esportivas desenvolvidas, os projetos voltados para a comunidade, os recursos disponíveis, entre outros dados que ajudaram a traçar um panorama inicial do bairro.

PASSO 2: AFETO
“É o momento que a gente estabelece uma relação com as pessoas, começa a conversar e a conhecê-las para entender a história do bairro e de seus moradores”, explica Paulo Farine, do Instituto Elos.
Ele e sua equipe caminharam pelo Jardim dos Ipês, visitaram as casas e falaram com as pessoas nas ruas para identificar as rotinas do bairro, os eventos comunitários, os pontos de encontro, além do perfil dos moradores, o que gostam de fazer, quais seus talentos e o que valorizam. “Ainda fizemos uma roda de conversa, muito interessante para eles mesmo se conhecerem também”, diz Paulo.

PASSO 3: SONHO
Quais os sonhos que você tem para o bairro onde vive? Buscar as respostas para essa pergunta foi o objetivo da terceira etapa do processo. Para isso, a equipe conversou com o maior número de moradores possível, desde crianças a adultos e idosos, buscando ouvir uma grande diversidade de pessoas e coletar uma verdadeira colcha de retalhos de sonhos individuais e coletivos.

I Encontro da Praca alta (71)

Moradores construindo a maquete da futura pasta, parte do Passo 3: Sonhos

PASSO 4: CUIDADO
O local da praça foi palco de uma reunião comunitária na qual todos os participantes falaram sobre seus sonhos para aquele espaço. Divididos em três grupos, eles construíram maquetes com tudo o que gostariam de ver por ali, como um campinho de futebol, árvores nativas, uma academia ao ar livre, um coreto ou quiosque para se reunir, entre outros itens de infraestrutura. Depois, um projeto final consolidou as melhores sugestões, decididas coletivamente.
O passo seguinte foi uma reunião para definir estratégias de captação dos recursos necessários para o mutirão, com a formação de diferentes grupos para buscar de parcerias, apoios e doações. “Foi maravilhoso não apenas ver a mobilização das pessoas, mas constatar que esse movimento em torno da construção da praça gerou uma aproximação entre os vizinhos, trouxe a conversa e um contato que antes não haviam”, diz a moradora Ludmila Ferreira Novais.

PASSO 5: MILAGRE
É hora de colocar a mão na massa! Depois de sonhar juntos, mobilizar as pessoas e captar os recursos, nos dias 24 e 25 de junho todos arregaçaram as mangas para construir a Praça Jardim dos Ipês. O grande mutirão mostrou a razão desse passo ser chamado de milagre. Em apenas dois dias, eles transformaram em realidade o que, meses antes, acreditavam ser impossível: partindo do zero, sem recurso algum, dar vida a uma praça. Confira alguns depoimentos de participantes desse dia histórico para o bairro:

“A importância é que vamos melhorar a praça, nós não tínhamos nada de benefício para as crianças e agora, com o apoio do Instituto Lina Galvani e os demais parceiros, temos brinquedos para as crianças poderem se divertirem”, Alessandro do Carmo Neiva, motorista.

“É um prazer para a UFOB, universidade nova da região, participar de iniciativas como essa. Nós acreditamos que temos muito para acrescentar e ajudar a comunidade. É um prazer trazer os colegas da UFOB para ajudar neste projeto de cidadania, que é o que estamos fazendo aqui hoje. Estamos com muito orgulho em ajudar a revitalizar a praça”, Raphael Klein, diretor da Universidade Federal do Oeste Baiano (UFOB).

“Foi bastante interessante a mobilização da comunidade em fazer este trabalho voluntário que será benéfico para a população do Jardim dos Ipês e para o restante da população. Agora, podemos usar esses dois dias como exemplo para replicar em outros espaços”, Daniel Fonseca, estudante de Engenharia de Biotecnologia da UFOB.

“Participar de qualquer atividade realizada em prol da comunidade é muito gratificante como pessoa e, falando especificamente como integrante da UFOB, é mais importante ainda para demonstrar pra população, que a universidade está engajada, que estamos fazendo parte para contribuir, não somente com ensino e pesquisa, mas, também, com extensão e dar um retorno para esta comunidade que nos acolhe”, Felipe Figueira, professor da UFOB.

“Foi surpreendente ter em um final de semana a gente conseguir uma praça maravilhosa, com uma boa iluminação, com ótimo convívio com as crianças, está sendo muito bacana. A importância desse mutirão é que deixamos um legado, um exemplo para as pessoas seguirem, para que elas vejam que também precisam e podem fazer sua parte e não só esperar pelos órgãos públicos”, Antônio Kreling, sindico do Condomínio Ana Zaponi

PASSO 6: CELEBRAÇÃO
Para fechar com chave de ouro um fim de semana tão especial, no final do mutirão aconteceu o momento de celebração, com todos os participantes reunidos admirando aquilo que haviam acabado de construir. “A Celebração é o reconhecimento de quem participou e correu atrás, dos parceiros que se envolveram no projeto, das pessoas que fizeram doações”, diz Paulo Farine.

Mutirao Media (4)

PASSO 6: REEVOLUÇÃO
A junção das palavras revolução e evolução dá nome à etapa final. Não é por acaso: depois de revolucionar, é preciso evoluir no processo. Em uma reunião, os moradores decidiram como vai ser a gestão e a manutenção da praça, os eventos que o local pode abrigar, os pontos que precisam ser complementados e os caminhos para isso, como a busca de novos parceiros. E eles foram adiante: começaram a idealizar os novos sonhos que desejam realizar no bairro.
“Acredito que o principal resultado desse processo não é a praça em si, mas o que ela possibilitou: a mobilização dos moradores, a construção de um senso de comunidade e de pertencimento ao local, a chance de se conhecerem, criarem vínculos de confiança e terem uma experiência de criação coletiva”, conclui Paulo.