Kamila Santos Barros é bióloga licenciada pela Universidade Estadual de Santa Cruz, (UESC). Tem mestrado na área de Zoologia com especialização em Comportamento Animal e atualmente leciona na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Rosana Marques Silva é veterinária, graduada na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com mestrado e doutorado na área de Anatomia de Animais Silvestres e Domésticos pela Universidade de São Paulo (USP). Hoje leciona na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Kamila e Rosana orientaram universitários em projetos de pesquisa que se utilizaram da estrutura do Parque Fioravante Galvani.

Logo-guará em seu recinto no PFG

Fale sobre os projetos que você orientou no Parque.

Kamila: Orientei 3 trabalhos de conclusão de curso. O primeiro foi o estudo de uma espécie de primatas, os bugios, que é conhecida entre os pesquisadores por representar um baixo índice reprodutivo quando mantida em cativeiro. Um dos objetivos do Parque é fazer o manejo reprodutivo, mas os animais não estavam se reproduzindo. O intuito foi apresentar aos bugios tipos diferentes de enriquecimentos cognitivos, pois o ambiente onde eles estão com o passar do tempo pode acabar ficando previsível. O resultado foi a diminuição dos comportamentos anormais e a apresentação de um repertório comportamental mais voltado para o natural da espécie. Mais tarde ocorreu a reprodução em um dos casais pesquisados. Enviamos esse trabalho para o 28º Encontro Anual de Etologia em Alfenas (MG) e ele foi bem avaliado perante a comunidade acadêmica. Outra pesquisa foi realizada com os lobos-guarás e avaliou sua predação em algumas granjas da região de Barreiras. Com o avanço do desmatamento do cerrado, esses animais perdem o alimento em ambiente natural e acabam invadindo as granjas para buscá-lo. Testamos alguns tipos de técnicas alternativas para manejar esses lobos das áreas em que estavam causando danos. No cativeiro do Parque testamos alguns tipos de estímulos sensoriais que poderiam servir como repelente, o que trouxe, porém, um comportamento territorialista dos animais e não os repeliram. Mesmo assim tivemos um resultado positivo, pois os estímulos serviram para enriquecer o ambiente deles em cativeiro e estimular comportamentos que são naturais deles em vida livre e não estavam sendo realizados. Este trabalho foi apresentado no 2º Congresso Latino-Americano de Etologia Aplicada, em Ilhéus (BA). Atualmente, estão sendo realizados também estudos cognitivos em ararajubas, com a intenção de evitar sua auto-mutilação (arrancar as próprias penas), outros comportamentos anormais e propiciar melhores condições de bem-estar para a espécie em cativeiro. Estamos em fase de coleta de dados.

Rosana: Orientei uma monografia de conclusão de curso sobre o enriquecimento ambiental com os lobos-guarás do Parque. A minha aluna permaneceu no local aproximadamente um mês e todo dia oferecia aos lobos um tipo de enriquecimento para melhorar o cotidiano deles e tornar o ambiente em cativeiro o mais próximo da vida livre. Ela por exemplo fazia com que eles procurassem o alimento que estava enterrado. Levamos esse trabalho para o II Congresso Brasiliero de Bioética e bem-estar animal, em Belo Horizonte (MG).

Família de bugios estudada em pesquisa

Porque vocês escolheram o Parque para realizar esta pesquisa?

Kamila: Fizemos essa escolha pela estrutura que o Parque oferece e que não temos na universidade. Além disso, é mais fácil para os alunos que estão desenvolvendo as pesquisas coletar os dados de animais de cativeiro do que ir a campo.

Rosana: Porque num raio de 500 km, o Parque é a única instituição legalizada com criadouro de animais silvestres, que segue a normativa do IBAMA. Pra gente isso é importante.

Como estas pesquisas poderão contribuir para a conservação das espécies estudadas?

Kamila: Os resultados revelam informações importantes sobre a biologia das espécies trabalhadas. Quando essas pesquisas passam a ser apresentadas em congressos, ficam disponíveis também a outros pesquisadores que poderão auxiliar na conservação das espécies. Além disso, também propiciam maior bem-estar desses animais em cativeiro, que poderão sobreviver e reproduzir mais.

Rosana: A partir do momento que você tira o stress desses animais dentro do cativeiro e proporciona a eles uma vida aproximada da que eles teriam soltos na natureza, você ajuda na reprodução. Sabemos que eles só vão reproduzir se estiverem em um ambiente satisfatório.

E na formação destes estudantes?

Kamila: A possibilidade acompanhar o dia-a-dia de um parque, trabalhar com manejo, com a conservação e com a Educação Ambiental, é muito relevante para a formação deles. Os alunos que passam por esses estágios e desenvolvem as pesquisas lá, se formam com uma bagagem muito melhor que aqueles que não acompanham essa rotina.

Rosana: Estamos em uma região pobre de estrutura científica, a nossa universidade ainda está no começo e a biblioteca ainda está sendo formada. Então, tudo que tem para colaborar com a formação desses alunos torna-se essencial. O Parque ajuda muito, principalmente porque nós temos ali uma equipe formada e que entende do assunto. Eu tenho uma turma que está se formando e agora eles dizem: “Eu podia ter aproveitado mais o Parque, que nessa área eu teria emprego.”

Qual a importância de espaços como esse para a conservação do cerrado?

Kamila: O Parque oferece uma estrutura e uma equipe, que muitas universidades não dispõem. Mas eu acho que o ponto mais forte de se manter um parque como esse na região é a questão da educação. No momento em que recebe crianças e faz um trabalho de Educação Ambiental, ele está formando multiplicadores e oferecendo formas alternativas de educação. Os alunos que passam por ali formam seus valores e vão repassar as informações que receberam. A longo prazo, isso vai ser muito positivo, pois são essas crianças que vão trabalhar na região do cerrado e que poderão cuidar melhor dele.

Rosana: Sabemos que têm espécies que estão entrando ou já estão em extinção aqui na nossa região. Um Parque como esse, com a finalidade de reprodução e de depois soltar os animais de volta na natureza é muito importante para a conservação do cerrado.

Saiba mais sobre os trabalhos citados, clicando aqui.