por Ana Clara Dumont
Em uma experiência com um grupo em uma comunidade que trabalho, no momento de se apresentarem antes de iniciar a atividade principal, sugeri que cada um falasse, além do seu nome, uma coisa – qualquer coisa – que achasse que fazia bem. De cinquenta pessoas, entre adultos e crianças, foram poucos os que de fato reconheceram e expressaram alguma habilidade pessoal. Foram poucos os que afirmaram que sabiam fazer bem alguma coisa. A maioria nem se quer conseguiu iniciar a frase com “Eu sou bom em…”, amenizavam suas potencialidades começando com “Eu gosto de fazer isso…” e muitas vezes traziam ações triviais como brincar, assistir televisão, dormir ou comer como aquilo que fazem de melhor.
Claro que, em uma situação como essa, parte do que foi dito, surgiu em meio a timidez ou ao impulso de ter sido pego de surpresa com uma questão que parece simples, mas acaba sendo profunda quando tange o conhecimento que cada indivíduo tem de sim mesmo. Quantos de nós já paramos para pensar em nossas habilidades, naquilo que nos destacamos, naquilo que nos dá orgulho, naquilo que fazemos tão bem que queremos mostrar para o mundo? Talvez muitos, de fato, nunca tenham feito essa reflexão.
E quando se trabalha com desenvolvimento de comunidades é preciso colocar uma lente de aumento nessa questão. Se temos um grupo em que a maior parte das pessoas não reconhece seu potencial individual, como esperar que, dado um determinado objetivo, cada um se prontifique a colaborar com o seu melhor? Como esperar desse grupo a complementaridade, união e coesão necessárias para alcançar os resultados esperados?
Indivíduos com baixa auto-estima, ao atuarem em grupo, podem ficar à sombra daqueles que são conhecedores de seus potenciais, o que acaba gerando um desequilíbrio e uma concentração de tarefas nas mãos de poucos. Tudo isso leva aquele círculo vicioso, em que os que recebem o chapéu de “fazedores” ficam sobrecarregados e a grande maioria se retrai acomodada em sua incapacidade.
Para mudar este cenário, repetidamente encontrado nas propostas de trabalho em grupo, faz-se necessário acreditar que todo e qualquer ser humano é dotado de potencialidades. E para que cada um possa emergir em sua singularidade, é preciso criar uma atmosfera de aprendizado, onde todos possam visitar os seus quereres e testar suas habilidades. Onde seja permitido errar e recomeçar. Onde cada passo de uma caminhada seja valorizado. Onde o acerto seja reconhecido, comemorado e compartilhado.
E assim, ao fortalecer o indivíduo tornando-o consciente de suas capacidades, do que já realizou e do que ainda pode vir-a-ser, fortalecemos também o grupo em que se encontra inserido. O acerto de um complementa o acerto do outro, e muitos acertos juntos levam a um grande acerto coletivo, onde todos se sentem realizados, orgulhosos e genuinamente responsáveis por ele.
24 de outubro de 2012 at 9:19
Parabéns Ana Clara!!! Concordo com tudo!! Sucesso! Beijinhos, Vanessa
27 de outubro de 2012 at 19:46
Querida Ana Clara,
Parabéns pelas suas palavras, e, principalmente, por suas observações sobre os indivíduos que compartilham desse belo projeto.
Enquanto as pessoas não descobrirem a si, as suas potencialidades, os diferentes saberes e a sua cultura, não serão cidadãos completos e realmente libertos de seus senhores mandatários.
Luto pela lEducação. Somente ela dá posse e totais poderes aos indivíduos. Bjos
22 de dezembro de 2012 at 8:36
Lindo texto! E coerente! Ao identificar nossas singularidades, enquanto indivíduo único e irrepetível, temos a liberdade de escolher sobre nosso agir, com consciência, responsabilidade e ética! Assim podemos DAR ao mundo (ao grupo, a comunidade) o fruto de nossos valores de criação, de vivência e de atitudes.