por Camila Cirillo

O desenvolvimento local privado

O que aqui chamamos de programas de desenvolvimento comunitário são ações de “promoção da participação e da responsabilidade dos cidadãos na mudança das realidades educativas, econômicas, ambientais e sociais de cada comunidade” (Delgado, 2009, p.173).

Sabemos que por muitos anos a responsabilidade pelo desenvolvimento local foi exclusiva do poder público, cabendo aos entes privados, principalmente aos cidadãos, um papel mais passivo no processo de transformação de suas comunidades. Nas últimas décadas, entretanto, vem crescendo no Brasil o número de programas de desenvolvimento comunitário impulsionados pelos braços sociais das grandes empresas, engrossando o caldo dos movimentos sociais surgidos no seio das comunidades. Cientes de que a instalação de uma unidade industrial ou a criação de redes hoteleiras em pequenos municípios pode gerar impactos negativos na população local, muitos institutos e fundações empresariais começaram a concentrar seus esforços nos chamados “programas comunitários”, que vêm ganhando força no terreno da intervenção social privada nos últimos anos.

Dessa forma, com o objetivo de promover o desenvolvimento das localidades onde essas corporações estão presentes, esses programas buscam também reduzir as resistências da população e os efeitos negativos de novos empreendimentos.

Diferenciam-se da ação social focada em áreas temáticas específicas na medida em que se apresentam como intervenções de amplo espectro, que pretendem abarcar o conjunto de questões econômicas, sociais e ambientais que afetam uma região, sendo processos de fortalecimento de potenciais, cuja finalidade é ampliar a qualidade de vida.

Quando falamos em aumento da qualidade de vida de uma região devem ser considerados tanto fatores subjetivos como a percepção de cada indivíduo sobre sua posição na vida e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (WHOQOL GROUP 10, 1994), como indicadores de educação, longevidade e renda. Esses últimos só podem ser alcançados a partir de mudanças estruturais, vindas principalmente da implementação de políticas públicas e de alterações na legislação.

Desse modo, entender as relações entre os programas privados de desenvolvimento comunitário e o processo político de tomada de decisão pode ser de grande valia, pois permite que seus promotores direcionem sua atividade como promotores da cidadania e de transformações sociais. De fato, a relação de proximidade entre ambos nem sempre é evidente, mas os pontos comuns existentes vão além do simples fato de estarem dirigidos a coletividades. Ou melhor, talvez esta analogia desencadeie muitas outras, muito mais complexas e muitas vezes contraditórias.

Sabendo então que se referem a formas de organização diferentes, o que de fato as diferencia e/ou aproxima?

Para fazer essa análise partiremos do entendimento da política como um trabalho coletivo, cuja finalidade é administrar os conflitos provocados por situações de desigualdades em um grupo ou localidade (Vallés, 2006). Utilizaremos também a classificação de política deste autor, que a entende em três dimensões diferentes: a política como estrutura, a política como processo, e a política como resultado. Em cada uma dessas dimensões da política podem ser feitas analogias com os programas comunitários a fim de entender como estes podem aprimorar suas ações e aumentar sua efetividade.

Artigo publicado no site: www.planpp.com

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