por Carlos Lopes

Princípios para o funcionamento de uma rede

Para que uma rede funcione plenamente, dentro da complexidade social em que vivemos, acreditamos que 4 princípios são essenciais: Democracia, Igualdade, Horizontalidade, Diversidade. Abaixo, alguns breves comentários sobre cada um deles.

· Democracia
Uma rede só é possível dentro de um sistema democrático que possibilite a plena participação das pessoas. Não nos referimos à democracia entendida como a vontade da maioria, mas, antes, no seu sentido de participação plena nas decisões e debates e de respeito à diversidade presente no grupo.Nas redes nas quais ajudamos a fomentar, facilitado pelo número de participantes, evitamos que o grupo use o recurso do voto para decidir uma questão em debate. Isso porque o voto sempre traz consigo duas conseqüências inseparáveis: um vencedor e um perdedor e este segundo sempre buscará inverter sua posição. Temos adotado, por prática e principio, decidir as questões por consenso. Isso não implica que um grupo inteiro tenha que chegar a uma mesma conclusão, ou ter uma mesma opinião a respeito de um determinado ponto, mas que é possível, com base no diálogo (portanto na escuta ativa) chegar a um termo que possa ser aceito.

· Igualdade
Significa que as pessoas e suas opiniões tem peso igual. Importante salientar que se trata da igualdade dentro da diversidade e levando em conta as competências pessoais. Isso não significa que as pessoas devam ser iguais ou se igualar, pelo contrário, devem manter sua identidade (não pode haver a despesonalização).

· Horizontalidade
Por princípio, uma rede deve ser horizontal. Ser vertical (pirâmide) é seu oposto. Esse valor ajuda a embutir no grupo o censo de ser responsável pelo que faz, já que não deve existir quem manda ou quem obedece.

· Diversidade
Implica a aceitação e convivência com os opostos.Se os demais princípios são garantidos, fica mais fácil a aceitação da diversidade. A diversidade é tão fundamental numa rede que a faz ser mais produtiva e ter ações muito mais condizentes com a realidade. Para que possa existir num grupo, é preciso estar presente um elemento que conecte todo o grupo, por exemplo, pertencer a uma mesma comunidade. Não importa as diferenças políticas, ideológicas ou de crença pois o motivo da conexão será maior que essas diferenças.

Funcionamento e composição da rede

A forma de conceber este tipo de rede social esta pautado além das características acima, em alguns parâmetros que se adaptam de grupo para grupo.

Normalmente os encontros acontecem de forma presencial e a maioria acontece uma vez por mês. Denominamos esses encontros de Fóruns, pois são momentos de debate e deliberação.

Quando um determinado tema ou projeto conecta (ou interessa) 2 ou mais elementos de uma rede e não a rede como um todo, estimulamos a formação de sub-grupos que, em outro espaço de tempo, irão discutir e deliberar sobre aquele assunto. Os resultados que se vai obtendo nesses subgrupos (que denominamos de comissões) são levados para os fóruns para compartilhamento com os demais e não necessariamente para aprovação de todo o grupo. Isso se dá, pois, o aspecto específico em debate pelo subgrupo, pode interessar apenas àquele sub grupo.

Existem outras comissões que se formam, por deliberação do Fórum, que são de interesse de todo a rede. Neste caso, também uma comissão pode ser formada, só que, diferente do caso anterior, o resultado desse sub grupo é levado para decisão na plenária (por exemplo, uma comissão que irá discutir sobre as formas de divulgação dos trabalhos da rede).

Nesse movimento, uma rede pode ter tantos projetos e comissões quanto puder abarcar. Evitamos a estratégia de formar comissões para contemplar todos os membros de uma rede. Se determinado elemento do grupo não deseja ou não pode participar de alguma comissão, nada o impede de continuar a participar da rede.

A rede social é um organismo aberto. Conceitualmente, sua composição pode se dar por pessoas ou por organizações, e em nossa prática temos considerado as pessoas como representantes de organizações. Fundamentalmente, temos focado e incentivado a participação de organizações do terceiro setor, porem, sendo um organismo aberto, são bem vindas organizações governamentais e da iniciativa privada. O termo “organização” não se limita ao seu sentido formal (condição jurídica específica), mas principalmente funcional. Assim, um grupo de pessoas que atua, por exemplo, na manutenção de um parque, pode participar da rede social por meio de um representante.

O sentido de organismo aberto, também se aplica quanto à participação, que é outro aspecto fundamental do funcionamento: a participação é livre. Assim sendo, um membro não está obrigado a participar contra a sua vontade, mas deve fazê-lo, enquanto essa participação estiver sendo proveitosa para sua organização.

Leia o artigo na íntegra, aqui.