Você já deve ter ouvido o termo redes sociais, amplamente difundido na Internet. Mas a conversa hoje não é sobre Facebook, Twitter ou outro meio de interação digital. Vamos falar sobre outra rede social, que impacta na vida de comunidades e seus moradores. Na definição do Senac São Paulo: “sistema capaz de reunir e organizar pessoas e instituições de forma igualitária e democrática, a fim de construir novos compromissos em torno de interesses comuns e de fortalecer os atores sociais na defesa de suas causas, na implementação de seus projetos e na promoção de suas comunidades”. Para saber mais sobre essas redes sociais, conversamos com o consultor Carlos Alberto Lopes, gerente de desenvolvimento do Senac São Paulo, especialista na área de desenvolvimento social e no fomento de redes para atuação conjunta de organizações do terceiro setor e de lideranças comunitárias. Confira:

ILG-0117O que configura a Rede Social e quais seus tipos?
De uma maneira geral, é um conjunto de relações existentes entre pessoas de uma comunidade, um bairro ou uma empresa, por exemplo, com suas qualidades e seus defeitos, suas potencialidades, inseridas numa cultura, de numa determinada época. Usam-se designações, como local, temática e de produção, para diferenciar um pouco o objetivo de cada rede. Podemos formar uma rede ou ajudar pessoas a formá-la entre si para produzir determinado produto, serviço, com fim econômico ou social. O termo produção, por exemplo, se refere a isso: ao objetivo que tem essa rede. Quando falamos de uma rede local, normalmente estamos nos referindo a um conjunto de relacionamentos numa comunidade que se preocupa com o futuro desse local onde vivem. E designamos uma rede temática o conjunto de pessoas que se preocupam por um determinado tema e nas questões relacionada a ele em uma comunidade, como meio ambiente ou proteção dos animais, por exemplo.

Por que é importante criar as redes sociais nas comunidades?
Vamos imaginar que dez pessoas que nunca se viram na vida resolvem se unir para iniciar a produção de doces, por exemplo, como acontece em um dos grupos de Geração de Renda em Angico dos Dias. Essas pessoas ainda não se conhecem, mas vão ter relações entre si. A rede ajuda a criar as bases de confiança e de relacionamento, porque se as pessoas não se entenderem, não estiverem conectadas a um mesmo objetivo, não tiverem capacidade de conversar entre si de uma maneira sincera sobre o que estão fazendo, os conflitos vão aparecer e podem destruir o negócio. A rede ajuda a formar esse elo.

Qual a importância na diversidade na rede?
Ela é muito importante. Numa rede de produção, por exemplo, alguns são bons para fazer contas e outros para precificar ou comprar produtos. Então, a diversidade torna-se importantíssima. Imagine que se todo mundo fosse bom apenas em produzir, quem iria vender os produtos se ninguém tem a habilidade para essa função? A diversidade de pensamentos propicia uma ampliação das formas de pensar das pessoas de um modo geral.

Quais os benefícios que as redes trazem para a comunidade?
A gente tem uma tendência, de um modo geral, a nos isolarmos. Cada um fica na sua casa, rua ou bairro vivendo sua vida, com seu trabalho e suas preocupações. Quando começamos a formar redes e a incentivar que as pessoas conversem entre si, falem a respeito das suas diferenças ou convergências, elas começam a entender que são distintas, mas que as diferenças podem ser um fator positivo e não negativo.Elas passam a descobrir que juntas podem fazer mais, a partir das suas complementariedades. E, naturalmente, vão se formando espaços de diálogo e de convivência que favorecem o surgimento de ideias, propostas, proposições, iniciativas. Tudo de uma forma coordenada, a partir da conversa. Os sentidos que as pessoas têm a respeito das percepções sobre as realidades ficam mais explícitos nas redes, nesses grupos de relacionamentos. Tudo numa perspectivade compreensão mútua, não de confronto.

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Quais os principais desafios na formação de uma rede?
Primeiro, uma cultura individualista que a gente tem que vencer de um modo geral – é um desafio trazer as pessoas para uma atividade em conjunto. Segundo, há uma cultura muito forte do assistencialismo no Brasil, de esperar que outros façam por mim aquilo que eu deveria fazer, seja o governo ou alguém com poder econômico. O terceiro desafio é as pessoas compreenderem que o oposto, o diferente, não é necessariamente mau ou ruim, mas apenas uma forma distinta de ver aquilo que acontece. Então, promover essas conversas e ensinar a olhar para outros pontos de vista são desafios que se colocam quando se forma uma rede. Tem ainda, ligado a tudo isso, uma cultura hierárquica que não é só brasileira, mas mundial, que prega que alguém sempre é o dono, o líder, o que manda e os outros obedecem.Quebrar esse pensamento também é parte importante do processo.

Como trabalhar a competitividade versus o pensamento cooperativo, que é um dos elementos-base numa rede social?
Muito embora a competição possa ser importante, se apenas ela predominar, tende a destruir redes e relações. Mas só a cooperação em si, num sentido mais ingênuo, de que todo mundo pode ser amigo, também não produz muita coisa. É preciso quebrar o espírito competitivo, mas sem destruí-lo, e estimular o pensamento de que a cooperação é possível e de que é preciso olhar para as diferenças. Outro fator, é aprender a observar o que a comunidade tem de positivo e não apenas o que falta nela. Quando se está em rede,as pessoas conseguem descobrir as coisas boas que existem nos locais onde vivem.Por mais pobre que seja a comunidade,do ponto de vista econômico, sempre existem riquezas e potenciais que podem ser aproveitados.

Por sua experiência em projetos junto aos Instituto Lina Galvani, como você avalia o trabalho que vem sendo realizado?
Sinto que o Lina Galvani fala em desenvolvimento comunitário de uma maneira ampla e consistente, não focando em um único aspecto, mas visando construir projetos e resultados a longo prazo. O Instituto trabalha com programas e em mudanças comportamentais que atuam de uma forma sustentável e que dão resultados não apenas agora, mas no futuro, porque mudam as percepções, e essa transformação não se perde: você “contamina” pessoas com uma forma de agir e isso tende a ser permanente.