As localidades nas quais o Instituto atua em breve conhecerão um novo parceiro. No início de outubro, Sérgio Kuroda assumiu o posto de Gerente de Desenvolvimento Comunitário do ILG. Psicólogo de formação, ele traz na bagagem a experiência em projetos do terceiro setor e a atuação em empresas como Itaú, BankBoston e Natura, nas quais trabalhou em áreas relacionadas a sustentabilidade, encaminhamento de parcerias e relacionamento com comunidades. No ILG, chega pronto para lançar-se a novos aprendizados e desafios. E é sobre eles, sua trajetória e desenvolvimento comunitário que conversamos com Sérgio na entrevista deste mês. Confira.

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Como foi sua trajetória até chegar ao ILG?

Sou psicólogo formado pela PUC-SP e, logo que me formei, atuei na área clínica e em projetos do terceiro setor. Após 5 anos, fui contratado na Fundação BankBoston para trabalhar com desenvolvimento de projetos da área de alianças e parcerias. Depois, migrei para o setor de sustentabilidade do banco Itaú. O caminho seguinte foi na Natura, onde atuei em uma área chamada relacionamento com comunidades, que faz a ponte com os fornecedores de produtos da biodiversidade brasileira para a empresa. Foi uma experiência muito interessante pois cuidava desde os primeiros passos – do início desse relacionamento e como ele se constituía – até a avaliação da capacidade de fornecimento e o desenvolvimento dessa comunidade parceira da Natura. Após 3 anos, decidi tirar um ano sabático e optei por uma experiência que estivesse alinhada com esse meu background.Viajei para o sudeste asiático para conhecer um pouco da filosofia e de uma cultura com princípios diferentes dos ocidentais. Procurei observar como eles lidam com a questão do desenvolvimento humano e da perspectiva de futuro e conhecer projetos que trabalham o relacionamento com a comunidade. Segui com esse foco em viagens que fiz no Brasil ao retornar do exterior, visitando organizações e projetos por aqui. Foi quando comecei a organizar minha volta para o mercado de trabalho e tive a sorte de saber do processo de seleção do Instituto Lina Galvani.

O que te chamou mais a atenção no ILG?

Pude constatar que, ao longo dos seus 10 anos, o Instituto conseguiu desenvolver um caminho bastante interessante não apenas no trabalho com as comunidades, mas também no seu fortalecimento na área do investimento social privado, que é um grande desafio. Nesse período, definiu quem é o Instituto dentro desse universo, construiu sua identidade e as formas de parceria e proximidade com a própria Galvani e de atuação nas áreas onde a empresa está presente – o que faz todo o sentido pois traz impactos positivos em diversos aspectos e apresenta oportunidades e possibilidades de trabalhar o desenvolvimento comunitário.

Como se deve  dar o trabalho com as comunidades e como você vê a metodologia utilizada no ILG?

Muitas vezes o profissional vai para a localidade com uma certa expectativa e já encontra uma comunidade extremamente desenvolvida, por exemplo. É preciso fazer um diagnóstico muito profundo, particular e preciso sobre quem é aquele grupo, como ele está atuando, de que forma trabalha, quais são suas experiências e perspectivas. Não dá simplesmente para chegar com um modelo pronto e achar que eles precisam de desenvolvimento e a gente é que tem conhecimento para isso e, então, estabelecer uma parceria dessa forma. Isso não dá certo. O ideal é seguir a metodologia de desenvolvimento com as comunidades que o ILG possui. Ela consiste em, num primeiro momento, fazer uma apresentação de quem é o Instituto e a Galvani e o que fazemos. Paralelamente, identificar quem mora na região, como eles trabalham ali, se já têm uma associação e quais são suas expectativas. É com essa troca que se cria, de fato, um relacionamento pautado numa base sólida e legitimado por todos os envolvidos. Uma parceria construída dessa forma é fundamental para um projeto realmente em prol da comunidade.

Quais os desafios do trabalho com desenvolvimento comunitário?

Muitas vezes, pode-se criar um aspecto de “dependência” da comunidade com a organização parceira. O ideal é desenvolver inúmeras atividades que fortaleçam a autonomia dos grupos locais como, por exemplo, processos de gestão, identificação e formação de lideranças e definição de estratégias de atuação dentro da vocação de cada região. O mais interessante é quando você desenvolve o seu trabalho e começa a enxergar que aquela comunidade passa a se tornar autônoma, presente e participativa, briga pelos seus direitos, escolhe suas prioridades e se organiza naturalmente para atuar na resolução delas. Esse é um desafio e um trabalho que vejo que o ILG tem como perspectiva em cada localidade na qual atua.

E especificamente no ILG, o que você considera um desafio?

Um desafio no qual estamos muito concentrados e ampliando a discussão é a questão da gestão do conhecimento. Queremos criar, a partir da nossa atuação nas localidades, um guia de informações que possa servir não apenas para o ILG e a Galvani, como também para qualquer pessoa ou instituição interessada em estabelecer parcerias com as comunidades. A ideia é sistematizar os conhecimentos e conteúdos e compor publicações que reúnam dados sobre trabalhos já realizados, perfil da região e de seus moradores, informações gerais, diretrizes e inspirações. Finalmente, há ainda o desafio cotidiano de todos que trabalham com desenvolvimento comunitário, que é o de estar sempre estimulando, instigando e aprendendo junto, pois o relacionamento com as comunidades é um trabalho de via dupla. Em cada dia, cada conversa, cada viagem, sempre voltamos com um monte de ideias, de inspirações.  É um desafio fundamental nunca perder essa perspectiva.