Carine dos Santos Barros é coordenadora da Escola Municipal Onero Costa da Rosa, em Luís Eduardo Magalhães. No ano passado, participou das Oficinas de Arte-Educação Ambiental do Parque Fioravante Galvani e quando soube da possibilidade de realizar o Festival das Sementes – projeto de Educação Ambiental da Campanha LEM APP 100% Legal – em sua escola, foi logo procurando o ILG. O projeto foi encerrado no final de 2012, mas Carine relata com entusiasmo, os reflexos positivos que o mesmo trouxe aos professores, alunos e à comunidade onde vivem.

Carine (de vestido jeans), com seus alunos, cuidando do viveiro de mudas da escola

O que te motivou a procurar o ILG para realizar o Festival das Sementes na escola em que trabalha?
A escola já trabalhava com questões ambientais. Quando eu entrei na Onero, há 2 anos, também comecei a querer trabalhar meio ambiente e cidadania com os alunos. Então, a parceria do ILG para a realização do Festival das Sementes foi uma continuidade ao que a gente já fazia na escola. O projeto levou a uma maior integração dos professores, cada um deu a sua contribuição e trabalhou a valorização e a sensibilização ambiental na sua disciplina.

Como conseguiram envolver educadores de diferentes áreas no Festival?
Alguns não tiveram a oportunidade de participar das Oficinas, mas fizemos uma reunião lá no Parque, expondo a ideia do Festival, aí os professores abraçaram a causa. A gente já fazia essa sensibilização com eles há algum tempo, quando eu fiz as Oficinas, cada coisa que eu aprendia, eu passava para os professores daqui. Com isso, conseguimos mudar a postura dos professores. Os de arte, por exemplo, agora tem todo o cuidado para não usar EVA e outros materiais que não-recicláveis. Artes fez um trabalho maravilhoso: a professora foi com os alunos para a mata, pegaram folhas e sementes caídas e fizeram quadros lindos! Já o professor de português trabalhou com histórias e poesias relacionadas ao Cerrado, ao cuidado com a natureza. O professor de matemática trabalhou o agronegócio, as sementes que suprem nossa região, sua importância e impacto ambiental. Ciência trabalhou com os meninos o que eles mais gostam da região, então todos os alunos da nossa escola – são 700 e pouco – visitaram matas, veredas e regiões de rios, tiraram fotos lindas e depois fizemos uma exposição. Geografia fez uma hortinha na vertical que ficou bem bacana. Até Religião teve um projeto. A professora fez um bazar, os alunos trocaram roupas e sapatos, pensando em uma maneira de conter o consumismo,.

Você consegue perceber mudanças no comportamento dos alunos, pais e comunidade? Quais?
O respeito, porque você não tem como cuidar, proteger, se você não conhece. O lixo na escola também melhorou bastante, os alunos estão bem mais cuidadosos. Tivemos relatos como: “Professora, eu não sabia que o Cerrado era tão rico e que esses animais faziam parte dele”, “Eu não sabia que o Cerrado era cheio de flores, que tinha plantas bonitas, pra mim ele era todo cinza e feio”, “Eu não sabia que a água da nossa região era importante para todos os brasileiros”. Também não sabiam que o agronegócio pode ser prejudicial se não for bem cuidado, e da sua importância para a economia da região, viram isso na aula de matemática: se a economia está fortalecida, as pessoas não precisam ir pra mata degradá-la. Eles passaram também a ver as garrafas de outra forma, a gente tem usado bastante, fizemos até lembrancinhas de aniversário e arranjos para um casamento, tudo lindo, lindo, lindo!
Também trabalhamos aqui na escola com o agente ambiental, cada turma é agente ambiental por uma semana e fica responsável por cuidar do espaço na hora do recreio e liberar na saída, só libera se a sala estiver limpinha. Na primeira semana é sempre difícil, porque um aluno joga um papel no chão e diz “Cata, você é meu gari agora!” Mas quando esse aluno se torna agente ele para de fazer isso.
Teve até dois meninos que não estão mais na escola e são complicados por estarem envolvidos com drogas, mas participaram do festival e se envolveram com o viveiro. Eram meninos que não queriam saber de estudos, mas acabaram encontrando aqui um espaço para trabalharem outras habilidades. É interessante ter essa diversidade.
Tem muitas pessoas aqui no bairro que não são da região, que vieram para tentar ganhar a vida, então, tentamos mostrar que aqui é o lugar deles, para valorizarem e conseguirem preservar.

Que balanço você faz desse projeto?
Foi um projeto grande mesmo, fizemos até um viveiro. Ganhamos 10 mil sementes da prefeitura e do ILG, os professores foram atrás das doações, algumas empresas ajudaram com madeira, terra, material orgânico. Não foi um penduricalho ecológico, não fizemos “dia da árvore”, “dia da água”, a gente foi trabalhando essa construção durante todo o ano. Foi realmente um Festival!

E agora que o projeto se encerrou, como pretendem dar continuidade à educação ambiental na escola?
Eu sugeri que agora que acabamos o Festival das Sementes podemos fazer o Festival das Mudas! Vamos dar continuidade com certeza! Já temos as mudinhas do viveiro, estamos esperando elas crescerem para fazermos a doação. Vou chamar a Secretária de Meio Ambiente, pra ver onde poderão ser aproveitadas na cidade, mas o foco é o nosso bairro. Alguns alunos daqui irão dar palestras em outras escolas e para a associação de moradores sobre preservação e cuidado, e também faremos entrega das mudas para aqueles que se comprometerem a cuidar delas, plantar para arborizar. E ainda quero ver outras coisas que podemos fazer paralelamente a isso.

E os novos alunos, que estratégias irão adotar para que também se sintam sensibilizados com as questões ambientais?
Como na nossa escola já está intrínseco o trabalho com o meio ambiente, vamos começar uma sensibilização com os novos alunos levando-os ao Parque. E faremos um projeto com foco neles: começaremos pensando quais são as ações que já existem no nosso ambiente escolar, na comunidade e aí vão surgindo ideias e a gente as transforma em ação. Para que realmente haja engajamento dos alunos e dos professores tem que partir deles a inciativa. Todas as ações que a gente fez no ano passado foram sugestões de alunos. Por exemplo, o nono ano gosta muito de mídia e tecnologia, então trabalhamos com fotografia. Uma aluna nossa participou de um concurso com uma foto do Cerrado e foi premiada! Outros alunos tiveram o maior rendimento em um festival de agronegócio. Então, sempre perguntamos e ficamos atentos ao que eles querem participar. Agora, estamos acabando de escrever os projetos para esse ano, para conseguirmos ir atrás de patrocínio, porque muita coisa que gostaríamos, não conseguimos fazer por falta de recursos. No ano passado, conseguimos um patrocínio para a organização de um espaço da escola: um jardim bem bonito. E isso tudo foi sugestão de alunos. Então, vamos incorporar isso para os novos alunos também, não tenho como te dizer agora quais ações vamos fazer, porque tem que partir deles, se não partir eles não se envolvem. E quando parte, é ótimo, porque eles estão na idade de querer salvar o mundo, e a gente acaba apoiando “vamos sim, vamos fazer”!

Como você enxerga a importância da Educação Ambiental no mundo de hoje?
Não existe mais educação que não aborde a questão ambiental, não tem como. Tinham uns estudos que diziam que Gestão Ambiental e Psicologia seriam as profissões do futuro, e realmente são. A gente vive num mundo estressado que você precisa de um acompanhamento psicológico para se manter bem. E para diminuir esse estresse também é preciso estar mais em contato com a natureza. Não temos como fugir das questões ambientais na escola, já fazem parte, mesmo sem perceber, os professores acabam trabalhando.
Os agentes ambientais da escola acabam levando a ideia para fora. Os alunos viram, por exemplo, que uma plantinha da praça tinha morrido e queriam plantar outra.
Aqui na escola temos cuidado até com a impressão das folhas de provas. Os alunos da manhã usam as folhas e as mesmas são usadas para a turma da tarde. Depois ainda vão para a secretaria para serem reutilizadas. Até a secretaria da escola está voltada para essas questões, hoje, não se joga fora nenhum papel antes de reutilizá-los ao máximo. Não podemos dizer ainda que a escola é sustentável, porque não podemos garantir o fim da cadeia, mas a gente certamente busca a sustentabilidade.

Como você acha que o PFG tem contribuído para a preservação do Cerrado em LEM?
Primeiro com as oficinas que são oferecidas para os professores. Eles realmente se tornam agentes que levam o que aprendem para a escola, como eu trouxe para a Onero. Esses professores acabam afetando os alunos, e até os pais deles, pois eles também levam isso para casa. Assim, conseguimos uma sensibilização maior. Primeiro você sensibiliza e depois conscientiza. Então meu aluno hoje, quando vai ao banheiro e a torneira está pingando, ele me alerta para consertá-la. Fica visível a mudança de postura. O PFG faz essa sensibilização também com os meninos, apresenta as sementes, a vegetação, os animais, como agir quando se depara com maus tratos e o respeito ao Cerrado. Eles passam a ter mais consciência sobre essas questões. Até a comunidade é sensibilizada, pois o Parque está aberto para visitação de todos. As ações do PFG têm que continuar para direcionarem nossa cidade para a sustentabilidade. 

Produção de horta vertical

Preparação do viveiro de mudas da escola

Viveiro finalizado

E as mudas cresceram! 🙂

Veja mais fotos das ações de Educação Ambiental na Escola Onero, no facebook do ILG!