Formada em jornalismo pela Universidade de Mogi das Cruzes, e com especializações em Relações Públicas na Universidade de São Paulo e em instituições dentro e fora do país, Valéria Lapa atuou durante toda a carreira na área de comunicação de grandes empresas. A entrada no Instituto Lina Galvani, em 2016, deu novo rumo a essa trajetória. Trabalhar pela primeira vez no Terceiro Setor, como gerente de Relacionamento Institucional e Comunidades, trouxe desafios e também descobertas valiosas que Valéria levará para toda a vida. Uma delas foi o contato com a Terapia Comunitária Integrativa (TCI), utilizada na nossa metodologia. Ela se apaixonou por essa ferramenta – tanto que está em processo de formação e pretende desenvolvê-la em paralelo com o trabalho de consultoria em comunicação. Na série de entrevistas especiais em alusão aos nossos 15 anos, conversamos esse mês com Valéria sobre descobertas, orgulhos e fatos marcantes de sua trajetória de dois anos no Instituto:

OS PRINCIPAIS APRENDIZADOS

Eu, que vinha de uma experiência empresarial, levo como um dos grandes aprendizados no Instituto Lina Galvani a construção de projetos em conjunto com parceiros e comunidades. Dentro de uma empresa, até por questões de metas e gestão de orçamentos, geralmente acabávamos levando as iniciativas já formatadas paras as comunidades. Dentro do Instituto, tive a oportunidade de ter uma maior flexibilidade, no sentido de adaptar aquilo que ansiamos para aquela localidade e abrir para a contribuição das pessoas que sãos as próprias beneficiadas. Parece simples, mas é uma grande lição quando você sai de um universo privado para o ecossistema de impacto.

Outro aprendizado é, sem dúvida, o contato com a Terapia Comunitária Integrativa (TCI). Eu conheci essa ferramenta trabalhando no Instituto e vou levá-la para a minha vida. Quando a gente se torna um terapeuta comunitário (e vou terminar minha formação esse ano), possibilitamos que as pessoas enxerguem seus potenciais e contribuímos para que lidem com os seus sofrimentos, mas, ao mesmo tempo, trabalhamos com nossos sentimentos, dores e angústias. É um processo muito profundo, de autoconhecimento, que, com certeza, foi um grande presente do Instituto para mim. Conheci lá e é o que escolhi para minha vida agora: fazer esse trabalho em paralelo aos projetos profissionais que estou tocando. Pretendo aplicar voluntariamente a TCI em locais onde as pessoas, de fato, precisem.

A IMPORTÂNCIA DA COCRIAÇÃO

Quando penso o que diferencia o formato com que o Instituto trabalha o desenvolvimento comunitário daquele modelo de chegar com o projeto pronto, a primeira palavra que vem à cabeça é: efetividade. Porque quando a pessoa que será impactada por uma ação participa ativamente da concepção desde o início, acredito que temos bons indícios de sucesso do projeto. É óbvio que, pela metodologia do Instituto, que executa pesquisas quantitativas bianuais e qualitativas todos os anos, a Instituição tem metas, objetivos e algumas diretrizes prévias para as ações. Porém, ao ouvir a comunidade nas pesquisas e rodas de conversa, ao dar voz às pessoas, consegue os insumos para pensar em projetos que, realmente, tenham aderência e importância para os moradores das comunidades. Estamos trabalhando a cocriação, o fazer junto.

A CONCRETIZAÇÃO DO FORMATO

Acredito que quando o Instituto decidiu lançar o modelo de edital, que começou em Serra do Salitre [Minas Gerais] em 2016 e no ano passado em Campo Alegre de Lourdes e Luís Eduardo Magalhães [ambos na Bahia], de certa forma, concretizou e consolidou nesse formato toda a proposta de fazer com a comunidade. Porque o edital é um chamado para projetos pensados e desenvolvidos pela comunidade. Isso foi um grande salto e tenho muito orgulho de ter participado do processo, contribuído na formatação desse modelo. O edital é uma forma concreta de receber da comunidade iniciativas que podem ser apoiadas tanto financeiramente quanto por orientações e oficinas. De passar conteúdos que podem profissionalizar essas pessoas, no sentido de executar as melhores ações, administrar as verbas e buscar parcerias e novos caminhos de recursos. Esse modelo condensa a proposta de ouvir a comunidade e contribuir naquilo que os moradores realmente acreditam que é o necessário. Mesmo que a gente dê o direcionamento dos temas, por conta de todos os estudos que fazemos nas comunidades, os projetos partem exclusivamente deles.

OS MOMENTOS MAIS MARCANTES

São muitos os momentos que marcaram minha trajetória no Instituto, mas destaco dois. O primeiro que lembro com muito carinho foi quando conheci a Dona Lina Galvani, a pessoa que inspira o Instituto. Não é todo dia que conseguimos conversar com uma mulher de 105 anos e ouvir dela histórias de vida que realmente nos motivam e nos fazem acreditar na humanidade. Geralmente, quando existe uma inspiração em um trabalho ou numa marca, ela parece sempre muito distante. Mas tendo o contato com a Dona Lina, pude sentir de perto, em carne e osso, tudo aquilo que ouvia sobre ela e sobre os valores do Instituto. Ela é uma mulher lúcida, cheia de vida, com muita fé e espiritualidade. Guardo para mim com extremo carinho o dia que a conheci.

Dona Lina e Valéria

 

O outro momento que me marcou muito aconteceu durante a última oficina de Desenvolvimento de Projetos Sociais em Luís Eduardo Magalhães. Já estávamos na fase de apresentações das propostas quando duas moradoras me disseram, com diferentes palavras, que mesmo se os seus projetos não fossem os selecionados no edital elas já se sentiam vencedoras. Elas me agradeceram a oportunidade de ter participado das oficinas porque, por meio desse trabalho que levamos para a comunidade, passaram a acreditar e confiar nelas mesmas. Disseram que, a partir das capacitações, entenderam que eram capazes de fazer um projeto e ajudar as pessoas.

Esses depoimentos me marcaram muito e até me emociono quando recordo porque, para mim, são a concretização, saindo do papel para a realidade, da missão do Instituto de desenvolver as capacidades para as comunidades promoverem a transformação local. Foi muito tocante porque essas mulheres sofridas, com histórias de vida que poderiam tê-las deixado no fundo do poço, se reergueram e são corajosas. Elas só precisavam olhar para dentro de si e entender que são capazes. Me senti muito feliz e realizada ao perceber que eu contribui com essa transformação, que as ajudei a enxergar, por meio de algumas aulas, o seu potencial. Espero poder levar isso para sempre para as pessoas!

A equipe do Instituto Lina Galvani, de laranja, e Valéria durante o evento de 15 anos e lançamento da publicação especial em parceria com a Página22